Curas com a Ayahuasca

Na visão indígena (a exemplo da indiana e outras), não há uma separação rígida entre corpo, mente e espírito.

Sendo assim que sintomas físicos muitas vezes originam-se ou desenvolvem-se no espírito ou na mente e despejam-se no corpo: somatizam-se (do grego soma = corpo), e são tratados pelos nativos da mesma forma, ou seja, podendo agir nas três instâncias. A Ayahuasca tem assim o poder de tratar sem diferenciação problemas físicos, mentais e espirituais.

Assim como o corpo, a mente e o espírito são unificados e intercambiantes, também não há separação real entre esses e toda a criação, sendo tudo e todos partes de um sistema uno. Por essa visão, toda doença ou “mal” do corpo ou da mente pode ser considerada uma doença espiritual, melhor dito, origina-se do fato do indivíduo ir contra esse sistema total do qual faz parte, a própria criação, quando não, é claro, está indo contra a própria unidade individual. Então, não é (só) por causa da culpa estabelecida por algum critério moral formalmente estabelecido que adoecemos, mas por estarmos indo contra nós mesmos, micro ou macrocosmicamente.

Os curadores Marúbo, sob efeito da ayahuasca, rapé e tabaco, entoam cânticos de cura sobre os doentes, realizando também a consagração da resina que será utilizada na pintura do corpo destes para o tratamento:

Antes de cantar pela primeira vez e nos intervalos, os curadores bebem ayahuasca e tomam rapé. Têm uma sequência padronizada: uma introdução narra como se formou o espírito da doença, constituído de partes de diferentes seres; uma narrativa de como a doença entrou no enfermo; a invocação de seres e qualidades que entram no corpo do enfermo para combatê-la, entre os quais tem papel preponderante o espírito feminino Shoma; e a recuperação do doente.

Povos Indígenas no Brasil – Marubo

Com a resina cantada fazem a pintura corporal de três tipos (…). Os desenhos têm a função estética de adornar e ao mesmo tempo o cântico na resina no corpo, curando-o, (…). Às vezes as pinturas abrangem quase todo o corpo significando que se encontra com dores pelo corpo todo. (…) A resina cheirosa não-cantada não é considerada remédio.

Delvair Montagner Melatti (1985, p. 285s), citado por Barbara Keifenheim em O uso ritual da Ayahuasca, p. 115

Libertação de vícios, comportamentos e crenças

A medicina da Ayahuasca tem sido fundamental na libertação de diversas pessoas de seus vícios, comportamentos e crenças, dentro eles:

  • Cigarro (tabagismo).
  • Álcool (alcoolismo).
  • Drogas e entorpecentes nocivos, como a cocaína e a cola de sapateiro.
  • TOC – transtorno obsessivo-compulsivo: desde que a Ayahuasca estimula a formação de novas conexões neuronais, muitos indivíduos experimentam significativa melhora ou cura dos sintomas deste e diversos transtornos psicológicos.
  • Transtornos compulsivos diversos: esses transtornos estão ligados a desequilíbrios diversos da mente.
    • Compulsão alimentar: A cura nesses casos pode passar-se durante um momento em que a Ayahuasca mostra ou a pessoa percebe: “Eu tô comendo demais”, ou “bebendo demais”, “o que eu tô fazendo com meu corpo?”, “não quero mais fumar”. Pode acontecer também mesmo sem nenhuma reflexão consciente: simplesmente durante ou depois da cerimônia a pessoa percebe melhor, e muda, determinados comportamentos autodestrutivos.
    • Aspecto sexual: a equação da parte sexual já é mais complexa. Isso porque a sociedade civilizada exige certa dose de repressão sexual, que as religiões geralmente costumam acentuar, tornando-nos ainda mais reprimidos, e muitas vezes hipócritas, neste assunto. É certo que existe o distúrbio compulsivo sexual, caracterizado talvez principalmente quando este comportamento traz prejuízos à vida e à saúde mental de quem o sofre. Mas é muito mais comum os casos de pessoas que estão reprimindo uma sexualidade que é, afinal de contas, o que de mais natural existe no ser humano. Como a medicina efetua um processo de conexão ou reconexão conosco mesmos, nos conectamos tanto à nossa essência espiritual ou existencial quanto com à nossa contraparte física ou natural e à Mãe natureza em geral. Considerando nossa repressão, o que pode acontecer? Nos tornamos mais sexuais! Porque mais naturais, mais autênticos. Claro que em outros casos a conexão da parte espiritual poderá ser tão forte que a contraparte física e seus interesses – abrigo, comida, sexo… – ficam em segundo plano. Também dependendo de nosso estágio de vida, a aceitação do natural é a aceitação da própria morte do sexo. Nesta e em muitas, muitas questões, este conselho do Buda é válido: siga o caminho do meio: nem muito, nem pouco – aceitemos o natural, aceitemos o espiritual, não nos fragmentemos: um reino dividido contra si mesmo não pode subsistir.
  • Sistemas dogmáticos de crenças religiosas: o fato de fazer a pessoa observar diversas questões sobre outros ângulos, experimentar outras dimensões de realidade espiritual e ou psicológica e tomar contato com um estrato de conhecimento ou autoconhecimento mais real ou profundo, faz com que ela tenha uma visão mais consciente, evoluída ou madura de suas convicções mentais, sociais, religiosas, facultando-a agora a avaliar mais claramente o que permanece ou não sendo válido e importante nesses campos.
  • Comportamental: ao conectar-nos com nossa verdadeira essência, a Ayahuasca tende a nos tornar pessoas melhores ou, dizendo melhor, a nos fazer resgatar o que de bom há em nós. Ao dar um centramento proveniente do autoconhecimento, tende a nos deixar mais conscientes, centrados e, consequentemente, mais calmos. Com isso, padrões comportamentais como a agressividade, a insensibilidade e a falta de empatia crônica tendem a serem amenizados ou até superados.

Quanto a usuários da cannabis sativa ou maconha em sua forma recreativa, cuja nocividade, embora conhecida, é discutida (ou refletida pela própria pessoa) frente às recompensas e até benefícios que pode trazer, pode-se dizer que o efeito da Ayahuasca tende a torná-los mais conscientes disso e também transformar mesmo o que se experimenta interiormente com o uso da maconha, havendo pessoas que pararam com seu consumo, sem portanto que isso seja uma regra ou um juízo definitivo sobre a melhor atitude para outras pessoas.

Depressão

O chá tem alguns princípios similares a medicamentos antidepressivos inibidores da MAO, os quais não podem ser tomados concomitantemente (daí o necessário período de desmame destes antes do uso do chá). Estudos científicos – por ex.: UFRN/UA Barcelona; FMRP-USP – também têm demonstrado o efeito antidepressivo da Ayahuasca.

Talvez a vantagem do tratamento que envolva o uso da Ayahuasca com relação aos outros seja o fato de que o chá aja em três frentes simultaneamente:

  • Fornece a suplementação química (que os tratamentos psiquiátricos também dão);
  • Propicia à pessoa uma autoanálise a partir de uma perspectiva elevada e muito clara (ver seção Terapia);
  • Permite à pessoa aproximar-se da, ou até mesmo vivenciar, a consciência da alma, e perceber que “ela tem uma mente, mas ela não é essa mente”. Logo, problemas que antes afligiam dramaticamente a mente são também relativizados com a ampliação do que a pessoa considera ser o seu ser: agora ela tem uma mente, mas é também e fundamentalmente um ser muito mais amplo, glorioso e complexo do que uma simples manifestação da matéria.
    • Alguns talvez argumentem que isso é um mecanismo de fuga, quando na verdade é o oposto da fuga: a pessoa “encara” de frente traumas e outros conteúdos mais ou menos conscientes na sua mente, cedo ou tarde supera-os e ganha a ampliação da consciência para além da mente. Como permanecemos encarnados e enredados na dimensão física, e nos primeiros estágios continuamos atrelados ao ego “separatista”, questões da mente continuam a aparecer, e às vezes voltam a necessitar de atenção ou encaramento; o que tende a diminuir é o sofrimento do ser por não mais estar identificado exclusivamente com sua mente.

Esses fatores somados reduzem drasticamente a quantidade química e a periodicidade que a pessoa necessita para o tratamento.

Já testemunhamos o caso de uma pessoa passar 6 meses “bem” (não-deprimida) após um único uso do chá, e após esse período não ter a necessidade de tomá-lo novamente por tantos meses mais, ou até mesmo casos de total superação da depressão e dificuldades psicológicas, casos aliás muito comumente relatados nas novas religiões ayahuasqueiras brasileiras.

Ao quebrar o padrão repetitivo das conexões neuronais, o psicodélico desliga a “Rede de Modo Padrão” e abre um escape para o paciente fugir de seus padrões de pensamento mais angustiantes [depressão, ansiedade, TOC, etc]. A mente passa a agir de outra forma maneira, ganha novas perspectivas.

Emanuel Neves e Larissa Pessi em Terapia com alucinógenos: faz sentido? – reportagem da Superinteressante

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