Upanishads

O termo sânscrito Upanishad (Upaniṣad) significa sentar-se perto; completamente perto; sentar-se aos pés do mestre para ouvir seus ensinamentos espirituais. Significa também destruir a avidya, ou seja, a ignorância, a falta de conhecimento, as impurezas que nos impedem de sermos consciência pura, ou Brahman.

Sankaracharya - quadro de Raja Ravi Varma
“Srimad Guru Adi Shankaracharya”, quadro de Raja Ravi Varma © CC. Shankaracharya (comentarista e expositor das Upanishads) com seguidores.

A palavra Upanishad significa conhecimento (vidya); aquele que cultiva o conhecimento da Upanishad transcende a miséria de permanecer em um útero, do nascimento e da velhice. Etimologicamente, a palavra também pode significar o conhecimento que suprime os males do nascimento, velhice, etc., ou que permite àquele que se devota a ela vivenciar Brahman, ou que corporifica a Liberação, ou o Bem Supremo.

Shankaracharya, traduzido por Carlos Alberto Tinoco em As Upanishads

As Upanishads são a parte final dos Vedas. São textos sânscritos antigos que contêm alguns dos conceitos e ideais filosóficos centrais das Religiões Hindus, alguns dos quais são compartilhados com tradições religiosas como o budismo e o jainismo, e também foram incorporados, com ou sem adaptações e desenvolvimentos, a diversos sistemas religiosos dos últimos séculos e décadas, o que ocorre constantemente também com outras tradições antigas.

Evolução do ritualismo para o autodesenvolvimento

Entre a literatura mais importante na história das religiões e cultura indianas, as Upanishads tiveram um papel importante no desenvolvimento de ideias espirituais na Índia antiga, marcando uma transição do ritualismo védico para novas ideias e instituições. O ritual, adoração ou sacrifício [yajna] praticado exteriormente voltou-se para o interior do indivíduo. De toda a literatura védica, basicamente apenas as Upanishads e o Bhagavad Gita são amplamente conhecidos, e suas ideias centrais estão no cerne espiritual dos hindus.

Dentre as ações ritualísticas védicas estão banhar-se cedo pela manhã, oferecer respeitos ou oferendas aos devas e aos antepassados, realizar orações três vezes ao dia, penitências, sacrifícios (de grãos e ou animais) etc. Dependendo da vertente religiosa, algum ou alguns desses atos eventualmente permanecem, mas o foco daquelas linhas que seguem a ideologia das Upanishads passou deles para o conhecimento ou autoconhecimento, com auxílio da reflexão, meditação, yoga, etc.

Somente para fins de analogia, podemos comparar as Upanishads com o Novo Testamento da Bíblia, em que a doutrina de Jesus marca o abandono aos costumes antigos em benefício do amor e do autoconhecimento. Assim também os textos inspirados e revelados desta parte final dos Vedas coroam o desenvolvimento e a evolução do pensamento religioso, alçando o homem e Deus aos patamares máximos que se pôde estipular, em detrimento aos seus aspectos material e pessoal.

“Os vários rituais descritos nos Vedas são como a fruta kimpaka, insípida no final. Preenchidos por miríades de misérias, eles não produzem nenhuma felicidade real. Portanto, porque deveria eu, que estou ávido pela Liberação, executar os rituais védicos? Acorrentado pela ignorância, diz-se que um homem está atado. O Conhecimento põe um fim a sua escravidão, como a luz destrói a escuridão. Portanto, a Liberação é obtida através do Conhecimento, por meio da destruição da ignorância.”

Texto Smriti (tradição lembrada), exposto por Shankaracharya, traduzido por Carlos Alberto Tinoco em As Upanishads

“Diz-se que este samsara antigo está manchado porque é preenchido com as impurezas da ignorância. A Liberação é alcançada através da destruição das impurezas e não através de milhões de rituais.”

Passagem dos Vedas exposta por Shankaracharya, traduzido por Carlos Alberto Tinoco em As Upanishads

As Upanishads são comumente referidas como Vedanta – as últimas partes dos Vedas – e alternativamente como “objeto, o objetivo mais alto dos Vedas”. São a porção transcendental dos Vedas. Os conceitos de Brahman (realidade suprema) e Atman (alma, eu) são ideias centrais em todas as Upanishads, e a autorrealização – “saiba que você é o Atman”, “Tu és Aquilo” – e, segundo a escola Advaita Vedanta, a identificação do Atman com Brahman, são seu objetivo.

Juntamente com o Bhagavad Gita e o Brahma Sutra, as Upanishads compõem o prasthanatrayi, que fornece a base para as várias escolas da Vedanta.

Mukhya Upanishads (Upanishads Principais)

▶ Mukhya: principal.

É dito que havia 1.180 Upanishads, das quais existem atualmente e são conhecidas mais de 200, sendo que as primeiras 13 (algumas escolas citam 10 ou 12) são as mais antigas e mais importantes e são chamadas de Mukhya Upanishads. As Mukhya Upanishads são encontradas principalmente na parte final dos Brahmanas e Aranyakas e foram, durante séculos, memorizados por cada geração e transmitidos oralmente. Todas as primeiras Upanishads são anteriores ao ano zero da era cristã, cinco delas com toda a probabilidade pré-budista (século 6 antes da Era Comum), até o período do Império Maurya (322-185 AEC).

As 13 principais Upanishads são: Brihadaranyaka, Aitareya, Kaushitaki , Chandogya, Kena, Taittiriya, Katha, Shvetashvatara, Maitrayani, Isha, Mundaka, Mandukya e Prashna.

Cânone muktika

Do restante, mais 95 Upanishads fazem parte do cânone listado na Muktika Upanishad, composto assim de 108 Upanishads. Muitas das outras Upanishads (que completam as mais de 200) ainda não foram transliteradas do sânscrito. Além delas, desde os últimos séculos do primeiro milênio aC até o século XV dC novas Upanishads continuaram a ser compostas durante a era moderna, embora frequentemente tratem de assuntos que não estão conectados aos Vedas.

Existem quatro Vedas., Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda. Existem tantas Upanishads para cada Veda quanto Sakhas ou ramos (subdivisões). Existem 21, 109, 1000 e 50 subdivisões para Rig, Yajur, Sama e Atharva Vedas, respectivamente. Portanto, há mil e cento e oitenta (1.180) Upanishads.

veda.wikidot.com/upanishads (tradução)

Classificação das Upanishads por vedas e por religiões

Cada uma dessas 108 Upanishads pertence a um dos quatro Vedas – Rigveda, Samaveda, Yajurveda (existem duas versões principais ou Samhitas do Yajurveda: Shukla Yajurveda e Krishna Yajurveda) e Atharvaveda. Confira a lista delas aqui.

Elas também podem ser divididas segundo sua associação aos sistemas filosófico-religiosos: Shakta (Shaktismo, deusa Shakti), Sannyasa (renúncia, vida monástica), Shaiva (Shaivismo, Deus impessoal Shiva), Vaishnava (Vaishnavismo, Deus como Vishnu), Yoga e Samanya (Sāmānya, geral, às vezes referido como Samanya-Vedanta), além das Mukhya (principais). Confira a lista delas aqui.

Conheça as Upanishads

Links

Livros sobre os ensinamentos das Upanishads (Vedanta)

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