Ahamkara (Ahaṃkāra) – O sentido de “eu”

➡️ aham: (pronome) eu.
➡️ kara (kāra): fazer, executar, trabalhar, criador, executor, autor.

Ahamkara significa o sentido de “eu”, o agente, a consciência do eu, o autoconceito. É o reconhecer-se como existência ou consciência individual.

Este sentido de eu em sua integração com o ser de fato é o que costumamos chamar de alma individual, o ser, o que na psicologia junguiana se define como self ou eu.

Ahamkara e ego

Ahamkara é o eu individual. Podemos dizer que é o ego mas no sentido original desta palavra, a saber, do protoindo-europeu “éǵh₂” (eu) ou ego no latim e no grego [ἐγώ], que significam eu, a primeira pessoa do singular (a única que comprovadamente é real). Ainda que este sentido de eu seja de fato o “ego” por excelência, em termos junguianos estaria mais próximo ao “self”.

A partir deste sentido de eu e de nossas experiências e memórias, desenvolvemos nossa identidade, nosso “ego”, agora no sentido que a Psicologia deu à palavra, quando a sensação de eu individual e separatividade é reforçada a partir das informações dos cinco sentidos recebidas por manas ou mente sensorial e das experiências processadas e armazenadas por ela e pelo intelecto.

Aqui vemos que transcender o ego é diferente de transcender o eu. Transcender o ego é não se ater ou se apegar à personalidade e seus caprichos, a todo desenvolvimento mental que guardamos como memória daquilo que consideramos sermos nós, ao que Castañeda chamava de história pessoal – esse é o eu ou ego da Psicologia, o que está na mente.

O eu

Quem é você?

Ahamkara é o abhimana [autoconceito] (…)

Samkhya Karika verso 24

O termo ahamkara é encontrado no Samkhya Darshana – como um de seus 25 tattvas – e em diversos manuscritos indianos, como o Bhagavad Gita. Neste verso 24 do Samkhya Karika, ahamkara é descrito como abhimana, que significa o autoconceito, a noção de si, a autoideia de si, de eu.

Existem a consciência ou Espírito Transcendente e o Espírito Imanente ou Universo Manifestado, a Natureza. Essa consciência é o que você é, a que testemunha o mundo – só que na verdade ela é cósmica. Sem nenhuma barreira, ela testemunha o Universo inteiro, ela é o Universo inteiro.

No Samkhya, entre esse espírito imanifesto e o sentido de eu individual só há o intelecto, ambos já no domínio manifestado. Isso quer dizer que no macrocosmo a Inteligência Universal ou Mente Cósmica precede a “existência de indivíduos”, e que em nós, no microcosmo, o intelecto manifesta-se antes do senso de individualidade.

E onde está a mente sensorial e mnemônica? Após este ahamkara. Isso tem uma consequência lógica: que a transcendência ao ego pessoal que citamos não pode ser a transcendência completa do eu. Além dela está esse ahamkara, Ahamkaramaya Kosha, o véu do eu, que está sobre a consciência e pelo qual “atravessam” eflúvios, emanações desta – percebemos a consciência juntamente com o sentido de eu.

Conforme explicamos nos tattvas, por esse processo de diferenciação do espírito e da natureza, o “eu” muda-se do Espírito para ahamkara e é impelido a considerar-se um sujeito individual separado, uma alma individual.

O que sentimos existencialmente como o eu e a Psicologia define como eu, self ou si-mesmo é o próprio atman coberto do sentido de eu.

Da mesma forma que o eu do Espírito é chamado corretamente de Eu real, o eu de ahamkara é real dentro desta nossa relatividade, neste lila, jogo – é o eu que temos pro momento, aquele mesmo que sentimos e sobre o qual tratamos aqui.

Somos, literalmente, dois (duas). Ao mesmo tempo que somos a consciência amorfa que testemunha, somos essa existência individual, um pedaço da divisão que aparentemente aquela promoveu para a experiência sensorial.

Mas seja pela reflexão, interiorização ou meditação, chegamos a um fato existencial: nosso eu é individual, nossa consciência ordinária não é cósmica; um terremoto sacode Taiwan, um míssel atinge Gaza e não sentimos nada.

Este seria o poder do véu, o poder de maya?

Pois considerando ahamkara como o eu individual, além dele só pode estar o cósmico, o total, aquilo que realmente somos. A simples consciência já é nossa realidade, e a partir da existência individual temos lampejos de toda experiência cósmica, ainda que não consigamos acessá-la (ou nos acessar) plenamente.

Transcendendo o eu

Consequentemente, a transcendência desse eu é a autorrealização como o Ser Cósmico.

Aqui está a única renúncia real ou que realmente importa, a renúncia ao eu.

Neste caso, o ser não quer mais a experiência individual, abre mão dela para obter o autoconhecimento supremo. Na teoria, é muito simples falar, mas existencialmente, experiencialmente é dificílimo; primeiro porque você precisa ter chegado a seu centro para perceber que neste centro há dois – consciência e eu individual -, isso não é nem mesmo uma questão para a maioria das pessoas – e talvez nem precise ser, toda essa pluralidade de existências é como a consciência se manifesta e desfruta.

Segundo porque, chegando lá, é um “suicídio”, um entregar-se, a morte da ilusão de ser uma alma individual, o único suicídio que é real.

Esse suicídio não tem nada a ver com aquele praticado contra o corpo, que só nos remete para outro plano de existência com, dizem, um desafio a mais para superar. Já que obviamente tivemos que abrir esse parêntese, existe outra modalidade deste último, a eutanásia consciente – proibida no Brasil -, que pode ser uma opção para uma consciência individual realmente madura e consciente, frente a problemas graves ou terminais de saúde que impedem seu desenvolvimento neste plano.

Quando praticamos essa entrega neste plano, nesta vida, se continuamos encarnados o sentido de eu sempre vai voltar, pois faz parte da manifestação universal.

Embora você (o eu) possa deixar de existir, aquilo que realmente é sempre permanece.

Karma Yoga e Laya Yoga são exemplos de caminhos que lidam diretamente com ahamkara ou sentido de eu.

Textos e reflexões

Pesquise aqui referências a Ahamkara no site.

Aprofunde-se e consulte outros significados de Ahamkara (Ahaṃkāra) – O sentido de “eu” na Yogapedia (em inglês) ou na Wisdom Library (português - tradução automática -, ou original em inglês). Na Wisdom Lib., caso o termo não seja listado, repita a pesquisa com o tipo Wildcard ou tente este link (pt / original-en).

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