🌺 Brahmacharya (Brahmacarya, Brahman-carya)

➡️ Brahman: o Absoluto, o Todo.
➡️ Brahma: o aspecto criador de Brahman.
➡️ charya (carya): mover-se (a); conduta, comportamento, prática.

Brahmacharya significa movendo-se a Brahman ou conduta ou prática que levam a Brahman.

Nesse aspecto, Brahmacharya pode significar transcendência à natureza, aos desejos, ao sexo.

Segundo Yogananda, brahmacharya também tem outro significado profundo: a prática de Om (som criador universal / Brahma). O Kriya Yoga, difundido por ele, tem inclusive como prática básica a Meditação em Deus como Om (Técnica de Aum).

A prática de brahmacharya recomendada por Patanjali pode ser interpretada como a continência sexual indicada para o fortalecimento energético da mente e dos corpos físico e sutil.

Brahmacharya é, talvez para muitos, o ponto mais importante no caminho da liberação de samsara; tentaremos expor aqui o porquê. Traduzir ou interpretar brahmacharya de maneira automática como “castidade” é um pouco superficial e ingênuo. Incitar esse tipo de comportamento sem um maior entendimento do que é a vida, o ego (sentido de eu) e sua transcendência é como varrer a sujeira para baixo do tapete: neste caso ela (ou no caso, o sexo) permanecerá em você, em seu inconsciente, e dará provas de que ainda vive, por exemplo, através de sonhos eróticos.

Brahmacharya não se trata simplesmente de se abster-se do ato sexual, mas de ultrapassar a consciência de ser masculino ou feminino.

Brahman é neutro, a Realidade não é homem nem mulher. A própria palavra Brahman em sânscrito é neutra. Não chegamos a essa realidade sendo um homem ou uma mulher. Você pode considerar que ela é ambos ou que é nenhum dos dois. Só podemos chegar a ela sendo “ninguém” (quando deixamos o ego “para trás”).

Atingir esse “centro” é alcançar o estado de ardhanarishvara.

(…) e é isso que Jesus de Tomé quer dizer: “…e quando tornarem o masculino e o feminino em um só, de modo que o masculino não seja mais masculino e o feminino não seja feminino, então, entrarão no reino” [Evangelho De Tomé vers. 22]. Então, você entrou: tornou-se perfeito, não está dividido, tornou-se indivisível. Agora você tem um si-mesmo: agora, você tem liberdade e independência; agora, não lhe falta nada, você está completo em si mesmo. A menos que esse círculo aconteça, você sentirá falta de alguma coisa e dependerá dos outros para preencher isso.

Osho, em A semente de mostarda, p. 207-211 – Texto de Osho estendido em Maithuna » União de Shakti e Shiva

Veja em Corpos/Camadas que o nosso ser, a nossa essência, está no “centro” (relativo ao nosso corpo). Para se chegar a ele e se autoconhecer, é necessário transcender as camadas que estão na periferia, como o corpo material e a mente com sua personalidade.

Dissolução no oposto – um princípio tântrico

Nesse aspecto, é de ajuda em brahmacharya um homem despertar e assumir aspectos femininos do seu ser: seus lados musical, corporal, estético, delicado, paciente, receptivo, passivo e sobretudo intuitivo ou menos racional, sabendo entregar-se e confiar. E a mulher avivar o masculino nela, o que toma a iniciativa, o desbravador, mental, racional, lógico, rústico, ativo, etc.

Isso, é claro, sem chegar ao outro polo, o oposto, pois nesse caso alguém masculino se tornaria feminino e vice-versa.

Adotar um aspecto oposto é uma ferramenta, um truque, para neutralizar uma polaridade ou característica dominante. Por exemplo, seja você homem ou mulher, se você é muito lógico e racional, uma maneira de minimizar esse aspecto é desenvolvendo o polo oposto, a intuição.

O fim não é desenvolver uma característica contrária, mas usar os opostos para se neutralizarem, para dissolverem-se um no outro, até se chegar ao não-gênero, à não-qualidade. A essência não é masculina, nem feminina; se você dissolver essas qualidades uma na outra poderá encontrá-la.

Esse processo é o de dissolução de um oposto no outro, da atividade na passividade, do masculino no feminino e vice-versa, encontrando-se, no meio, como o ser em sua plenitude, assexual. Quando essa transcendência é realizada, o sexo desaparece, porque o sexo existe por causa dessa divisão.

Dividido, sendo homem ou mulher, identificado com uma parte ou polo da divisão, você não pode chegar ao Ser, ao Si Mesmo. Para chegar a isso, você precisa ser inteiro, indivisível, não mais um fragmento ou metade, mas uma unidade, o todo.

Brahmacharya no yoga

O objetivo máximo do yoga é moksha, a liberação. Quando praticamos yoga com essa intenção, temos de atingir o brahmacharya plenamente, isto é, conquistar irrevogavelmente a castidade sexual e o não-desejar a outros objetos mayávicos. Pois o que nos faz renascer e voltar ao Samsara é justamente o desejo.

Os gurus iogues ensinam que, como não somos a nossa mente, nosso corpo e nossos sentidos, podemos dissociar-nos dos desejos inerentes a eles.

Para se ter sucesso nessa empreitada, costuma-se recomendar:

Algumas práticas nesse sentido são não expor-se ao contato com o sexo oposto, nem se colocar em posição vulnerável a influenciações externas vindas das mídias, das redes sociais, do cinema, etc., e praticar determinados asanas, sobretudo invertidos, para direcionar o fluxo energético dos centros mais baixos do corpo para os mais elevados.

A restrição sexual ajuda no cultivo e desenvolvimento de ojas ou força espiritual e tejas ou calor. E pode facilitar na sutilização da consciência.

Mas talvez a prática mais importante para o desenvolvimento de brahmacharya e outros atributos espirituais seja a meditação regular. A meditação bem orientada faz com que desenvolva-se o descobrimento gradual de seu verdadeiro Ser, e começa a abrir as portas das potencialidades do mundo astral e para o verdadeiro estado natural de Consciência, Existência e Êxtase (do qual o êxtase sexual é dito ser um pequeno reflexo). Assim, a prática meditativa pode proporcionar um prazer muito maior pelo qual o sexo poderá ser finalmente e tranquilamente abandonado, bem como pode levar o indivíduo a se autorrealizar, ou seja, perceber seu Ser e a natureza do mundo projetado de maya, que inclui a mente, os sentidos e seus desejos (todos os 24 tattvas além do Ser, Purusha).

Cuidados com a repressão sexual

Psicologicamente, a simples repressão da energia sexual pode nos levar ao outro extremo, a uma supersexualização. Ou à negação: o desejo não está transcendido, só foi para o inconsciente (ou corpo causal) e lá será o germe ou motivo da nossa próxima encarnação.

Porém podem existir casos em que, provavelmente devido a práticas pregressas desta vida ou de vidas anteriores, a pessoa tenha superado ou “realizado” (completado) o sexo, podendo atingir estados elevados de consciência sem a importunação de qualquer desejo inconsciente.

Sexo é, de fato, um dos desapegos e renúncias mais difíceis em nossa jornada para sair do ciclo de nascimentos e mortes neste mundo. Conhecendo a natureza de nossa mente e desejos inconscientes, deveríamos entrar no brahmacharya quando realmente transcendemos o sexo e os desejos deste mundo, quando estamos resolutos em renunciar à experiência sensorial. Então, o caminho será realizar uma prática intensiva de algum yoga rumo à liberação deste mundo, aonde o brahmacharya assumirá seu papel, a castidade.

Sexo rumo ao brahmacharya

O primeiro ponto que precisa ficar claro é que encarnamos na condição humana (e macrocosmicamente o próprio universo manifesto veio a ser) devido à iccha: vontade, desejo. Primordialmente, desejo de ser, existir e da experiência sensorial.

Dois dos desejos mais comumente manifestados na psique humana, ao menos atualmente, são os dos prazeres sexual e alimentar, atrelados às necessidades físicas. Então, sexo não é pecado, ao contrário, é natural, o meio pelo qual nascemos e um dos motivos para os quais estamos aqui!

Há outros desejos menos profundos que levam os seres a reencarnar como os de afeto, aceitação ou valorização humanos (geralmente por carência destes), afã por riquezas, nome, e vícios como álcool e cigarro, além de impulsos como o apego a alguém ou a algo. E também motivações mais sáttvicas como o amor a alguém ou ainda a toda a humanidade. Todos esses aprisionam ao Samsara.

O segundo ponto é que os caminhos espirituais são, em geral, forças que vão contra a natureza, que levam seus adeptos a realizar práticas para acelerar seu desenvolvimento ou autoconhecimento. São, assim, contra a evolução natural dos seres. Ao se deixar levar naturalmente por prakriti, o ser tende a evoluir ou involuir em ritmo parecido aos demais, o que pode ser um processo quiçá muito lento e sem garantias para ele de que encontrará uma brecha para sair da roda de samsara.

Após desencarnar, se houver em alguma camada do ser o desejo da existência mundana, ele reencarna. Se houver desejos altruístas sublimes, ele fica mais tempo em planos mais sutis onde é possível realizá-lo, etc., tudo ainda dentro do universo de maya ou prakriti.

Pois então, se existe algo em seu ser que deseja a experiência sexual (ou gustativa, etc.), em nossa humilde opinião, seu sadhana deve começar por satisfazer esse desejo, e satisfazer de verdade, a ponto de quem sabe enjoar do objeto desejado. Pois provavelmente foi por isso que você encarnou! Em outras palavras, se você é um/a jovem encantada/o pelo exemplo de um Vivekananda ou de um Yogananda, analise bem se você está em condições de seguir os mesmos passos deles sem que futuramente os desejos calados e varridos para o inconsciente apareçam para lhe trazer de volta à experiência humana. Lembre-se que eles foram criados em contextos culturais (e talvez predisposições em seus corpos causais) que favoreciam a abstinência, além de terem encontrado gurus que lhes permitiram experimentar realidades muito mais fascinantes do que a física.

Nesse aspecto, o mais indicado para a maioria de nós é fazer como Buda, que mergulhou nas benesses e prazeres mundanos disponíveis em seu palácio, até realizar ou intuir que não havia sentido naquilo tudo, renunciando a eles e partindo em busca de Si. Então, quando estava às portas da iluminação e foi tentado por esses mesmos desejos, pôde dizer não e negá-los como exterior a seu ser. Diga-se de passagem, algo parecido aconteceu com Jesus, levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado inutilmente pelo diabo (personificando maya, ilusão ou mentira) a sucumbir ao desejo por alimento e poder, e à ilusão das palavras. (Matheus 4:1-11)

E, pelo amor de Shiva, não pare seu yoga por causa da prática sexual! Nem sinta qualquer pesar por isso. Siga em frente, esforçando-se na compreensão e realização do seu sadhana, no autoconhecimento, e o desapego ou destacamento do mundo irá se fortalecendo naturalmente.

Então, desapegando-se e apartando-se aos poucos das camadas que revestem seu Ser – como os corpos físico, mental causal e seus respectivos mundos -, e sobretudo meditando, você se capacita à realização do yoga, que é a liberação dessa roda de samsara, o conhecimento de Si.

Se você puder transcender o corpo e os sentidos mais cedo, ótimo, se não, uma boa meta pode ser chegar na idade em que ocorre a diminuição dos hormônios sexuais sem profundos desejos não realizados. Assim, não haverá impeditivos físicos nem psicológicos para que você embarque numa profunda jornada de autoconhecimento.

Moderação e consciência

Moderação sexual não é uma regra, mas significa utilizar o conhecimento de que sexo consome energia para não esgotá-la nele, a fim de que se tenha energia disponível para o autodescobrimento ou elevação espiritual.

O mesmo se aplica a qualquer dispêndio de energia. Mais do que o sexo, na sociedade atual é comum gastarmos “toda” nossa energia diária no trabalho ou no estudo e igualmente não nos restar nada dela para uma prática espiritual, como a dança ou a meditação.

Na cultura hindu, no estágio de chefe de família, brahmacharya é castidade parcial, aonde relações sexuais só podem ocorrer em determinados dias.

Mesmo envolvido em um trabalho tântrico, praticando o sexo de maneira consciente e presente, trabalhando com suas energias, você não deve esgotá-las. Deve respeitar o horário de repouso, de meditação, o ponto que se atingiu o centro do seu ser na união sexual e permanecer ali o quanto puder. Em determinados Tantras, esse tipo de preservação da energia se dá com o controle e adiamento do orgasmo a fim de fundir-se na experiência e canalizar coluna acima a energia kundalínica estimulada durante o ato.

Asanas para brahmacharya

As asanas invertidas costumam ser indicadas para brahmacharya. Entre elas, pode-se destacar Sarvangasana.

Ver também

Um dos amigos do Mulla Nasruddin, Abdullah, estava indo a um haj [ou hajj, peregrinação], à Meca para uma peregrinação religiosa. Ele era idoso e tinha acabado de se casar com uma jovem muito bela. É claro, ele estava indo a um haj, mas estava muito preocupado com sua esposa. Havia toda a possibilidade de ela não lhe ser fiel. O que fazer? Assim, ele comprou um cinto de castidade e trancou sua esposa. Mas onde guardar a chave? Levá-la com ele para o haj não parecia certo. Seria uma carga um sua consciência, pois ele não acreditava na esposa, não confiava nela. E constantemente a chave o faria lembra-se da esposa e da possibilidade… Assim, ele pensou, e foi até Mulla Nasruddin, seu amigo.

Nasruddin era um homem idoso então, quase cem anos, e todos sabiam que ele tinha sumido das mulheres. E, quando a pessoa some, fica farto de mulheres, ela começa a falar de brahmacharya. Ele estava sempre falando sobre o brahmacharya, e condenando as pessoas que ainda eram jovens. Ele dizia: “Você está perdendo sua vida! Isso é inútil, um desperdício de energia e nada mais, e não leva a lugar nenhum”.

Seu amigo, esse Abdullah, foi até ele e disse: “Nasruddin, estou com um problema. Minha esposa é jovem e é difícil confiar nelas; assim, comprei um cinto de castidade e tranquei minha esposa no cinto de castidade. Agora, onde guardar a chave? Você está sempre a favor do brahmacharya e você é o meu amigo mais confiável, meu melhor amigo; assim, guarde esta chave. Dentro de três meses eu estarei de volta”.

Nasruddin disse: “Sinto-me muito agradecido, de que você tenha pensado em mim neste momento de preocupação, e lhe asseguro que essa chave não poderia estar em melhores mãos. Sua esposa estará a salvo”.

Abdullah saiu, com o coração aliviado. Não havia nenhum perigo: o homem tinha noventa e nove anos; depois, ele estava sempre a favor do brahmacharya e vinha pregando o celibato há quase vinte anos. Feliz de que as coisas tivessem dado certo, ele foi embora. Mas uma hora ou pouco mais tarde, ele ouviu um burro galopando depressa atrás dele, vindo em sua direção. Quando o burro chegou perto… Mulla Nasruddin estava montado nele, cansado da forte corrida, transpirando, e lhe disse: “Abdullah! Abdullah, você me deu a chave errada!”.

Osho, em A semente de mostarda, p. 404-405

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chela » Conduta ou restrições (Yama) » 🌺 Brahmacharya (Brahmacarya, Brahman-carya)

2 comentários sobre “🌺 Brahmacharya (Brahmacarya, Brahman-carya)

  1. Mais uma vez, eu não tenho como agradecer. Espero um dia conseguir contribuir para a humanidade como você(s) estão fazendo, de verdade. O que acabei de ler aqui me ajudou tanto! Aqui é um exemplo incrível de dialética, de como um ser humano é capaz de aprender com a troca de conhecimentos, de como nossas ideias não server de nada se ficarem reservadas em nossas mentes. Muito obrigado! Como disse, espero um dia contribuir, estou no caminho de adquirir o conhecimento para quiçá algum dia com propriedade, convicção e intuição ajudar os outros. Grato!!!

    1. É isso, querido, no final somos todo um e está evidente no seu comentário que sua mente tem a capacidade necessária para ser veículo de informação preciosa para outros! Juntos vamos colocando tijolos no edifício do caminho existencial neste mundo, afinal, de uma forma ou de outra, mais cedo do que tarde, a verdade (o que é) sempre prevalece.

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