2011 – 1ª edição
Editora: Associação Internacional Editares / Foz do Iguaçu-PR
O ex-padre católico Marcelo da Luz, que de 1994 a 2004 esteve na Ordem Dos Franciscanos Conventuais, aborda em Onde a Religião Termina? as incoerências e incongruências que encontrou no seio da Igreja Católica, que o levaram a íntimos e difíceis questionamentos durante este período, que terminariam por, ao amadurecer sua visão de mundo, conduzi-lo a não só desertar da instituição como a compilar nesta importante obra muitos pontos sensíveis da prática religiosa, da estrutura sacerdotal, da Igreja e do Cristianismo como um todo.
Isso envolve temas importantes como a “Terceirização das escolhas existenciais” dos devotos; o problema do celibato e da repressão sexual religiosa tanto para os clérigos e aspirantes como para os católicos praticantes que gera um desequilíbrio psíquico e levou, está levando neste exato momento e levará (se não houver mudanças drásticas) a milhares ou milhões de casos de abuso sexual e estupro (de menores e maiores) dentro e fora da igreja; a hipocrisia com relação à homossexualidade no Clero; a violência (que é explícita mas às vezes mais perigosamente sutil) presente nos próprios livros religiosos, que culmina em episódios sanguinolentos como a Inquisição e tantas guerras; entre outros assuntos.
Uma consulta ao Sumário do livro que pode ser visualizada na Amostra disponível na Amazon dá a dimensão da abrangência da obra.
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O livro também traz pontos interessantes para estudo bíblico, como a evolução da divindade de Jesus ao longo dos evangelhos: no mais antigo, Marcos, Jesus é mais humano e torna-se especial no batismo; em Mateus e Lucas ele torna-se divino já na concepção; e em João, o mais tardio evangelho, ele o é desde o princípio do Universo.
Ao abordar questões sobre a Bíblia e o Cristianismo, diversos pontos deste livro nos ajudam a esboçar o Caminho de Jesus e apresentar porque ele é muitas vezes drasticamente diferente deste Cristianismo Paulino atual.
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Como pequena observação, que em nada diminui a magnitude e a importância deste livro, ao final do capítulo 5, em “Tolicionário” cristológico, o autor (que deixa claro que está comentando [não necessariamente o Jesus real], mas “conforme as informações disponíveis nos evangelhos canônicos”) parece interpretar os episódios ainda segundo o que é ensinado nas igrejas a respeito de Jesus – como um ídolo, o filho único de Deus e Deus, que o tornaria inalcançável se estivesse falando com seres de espécie diferente -, e então interpreta de maneira literal (ou somente pela mente lógica) algumas passagens que têm um significado espiritual correto, que são entendidas ao vermos Jesus como um buda, um ser que alcançou a iluminação – percebeu-se a si mesmo como Consciência, o Todo – e está nos apresentando descrições do que é essa realização, o reino dos céus, uma experiência interior existencial inefável que não pode ser descrita por palavras, mas somente apontada indiretamente através de metáforas, parábolas, o que Jesus fez com maestria.
Não obstante, algumas críticas presentes nesse Tolicionário são válidas, talvez porque Jesus tivesse algum ponto de personalidade ou de melhora pendente (mas analisar ou projetar a personalidade de um mestre ou ser autorrealizado como Jesus é perder o que ele realmente é ou fala) ou mesmo por interpolações e mistificações feitas pelos próprios evangelistas, para estabelecer e reforçar crenças e dogmas que estavam sendo propostos no Cristianismo Primitivo. Um exemplo são as passagens do Evangelho de João (se não este evangelho todo): analisando do ponto de vista personalizado e literal, no crescendo da divindade de Jesus já citada, João eleva Jesus a uma condição exclusivista de Deus; esta parece ter sido mesmo a intenção do evangelista ou de seus editores. Neste sentido, o Evangelho de João pode ser considerado deletério, para não dizer criminoso (no que tange a seu sectarismo ou exclusivismo proposto e a restringir o potencial existencial humano – do leitor – e a sua liberdade psíquica).
Ao extrapolar a humanidade de Jesus e escrever um evangelho místico (que por isso sempre atraiu tanto os cristãos mais ortodoxos como outros cristãos e mesmo não-cristãos), João acaba escrevendo um texto esotèricamente (para o mundo interior) coerente se você o ler eliminando completamente a personalidade de Jesus, como sendo a Consciência, a Existência falando através dele, da mesma forma que o fez através de Krishna no Bhagavad Gita e através de qualquer outro “iluminado”, ou melhor, alguém que deixou de ser e se tornou um canal para a iluminação ou Existência.
O problema é que o conteúdo místico e de valor real, existencial, está mesclado com o desenvolvimento teológico e dogmático que o escritor intencionava propagar ou estabelecer, culminando no fatídico, trágico versículo 14.6: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”.
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Osho lança luz para além da interpretação teológica convencional sobre as palavras de Jesus presentes neste documento, que permaneceu totalmente marginalizado pela Igreja, não obstante possua muitas passagens em comum com os evangelhos canônicos, como a própria parábola da semente de mostarda
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