11 de junho de 2025
Título original: Verschiedenes (alemão)
➡️ Vol. 11/6 da Obra Completa.
2012 – 3ª edição
Editora Vozes
160 págs. (Kindle 161 págs.)
Os volumes 10 e 11 da Obra Completa de C.G. Jung contêm, em sua edição original, além dos textos publicados individualmente ou agrupados segundo temáticas facilmente reconhecíveis, também uma série de textos que, por sua natureza diversificada, foram reunidos sob o título genérico de “Verschiedenes” (diversos).
Editora Vozes (Orelhas do livro)

Escritos diversos do vol. 10
A primeira parte deste livro, Escritos diversos do vol. 10, que consiste em não muito mais do que a quarta parte de seu conteúdo, é composta de textos desimportantes do ponto de vista conceitual e prático da Psicologia, como as conjecturas que levaram Jung à presidência da Associação Médica Geral de Psicoterapia, não só da alemã como da internacional, e suas saudações aos congressos organizados.
Tudo isso ao longo da década de 30, período em que ele também pôde testemunhar, com preocupação, a ascensão do governo nacional-socialista, nazista e totalitário na Alemanha e suas tenebrosas consequências, como a 2ª guerra mundial em 1939.
São textos úteis para o estudo da história da Psicologia, que era um ramo da Psiquiatria, apresentando o seu processo de difusão e os desdobramentos iniciais que a levariam ou estavam levando à separação da Medicina e seu estabelecimento como disciplina ou ciência individual na Europa.
Não obstante, quando se trata de Jung, mesmo em preleções societárias podemos encontrar alguns tesouros, dos quais achamos relevantes:
- compromisso do psicólogo (como é o do médico) de tratar e acreditar na alma humana independente de partido político. (§ 1.022B)
- “Toda ciência que pretende ser digna desse nome precisa criticar seus pressupostos.” (1.042B)
- O psicoterapeuta deve modificar ou adaptar o método utilizado conforme o paciente. / Psicólogos também são humanos e têm suas convicções. (1.071)
As referências bibliográficas na obra de Jung são feitas aqui pelo número do parágrafo, entre parênteses.
Escritos diversos do vol. 11
Já a sequência do livro, Escritos diversos do vol. 11, é composta por textos elucidativos do pensamento de Jung, em especial no campo do inconsciente e sua relação com seus símbolos e potências religiosas.
Do Prefácio ao livro de Victor White: Deus e o Inconsciente:
- uma expressão nos chamou atenção no § 454(A): “Se não estou enganado, uma das principais dificuldades consiste no fato de que os dois parecem falar a mesma linguagem, mas ela deixa transparecer em ambos dois campos de associação totalmente diversos.” Isso é muito flagrante, e fonte dos maiores mal-entendidos, no caso de palavras como Deus, alma, místico, etc.
- exemplo de como uma pessoa encontra um conceito religioso sedativo ou autoenganador. (457A)
- as pessoas traduzem conforme a sua fé a experiência arquetípica, (463A)
- e há no nosso tempo pessoas de todas as mentalidades, como as pré-cristãs e as medievais. Como exemplo, pode-se citar a figura do diabo nestas últimas. (463m)
Do Prefácio ao livro de Z. Werblowsky: Lúcifer e Prometeu, pode-se destacar a separação da figura do diabo da de Deus (supremo bem). (470A)
Em Bruder Klaus:
- como a “visão” mística sofre uma complementação no processo de sua integração psíquica. (478B)
- não há como ter experiência de Deus [subjetiva e transcendental por natureza] e não se desviar, “pelo menos um pouquinho”, do dogma, do “estabelecido” exteriormente [tornado objetivo por outras pessoas; racional]. (481)
Do interessante capítulo Relações entre a Psicoterapia e a Direção Espiritual:
- pastores protestantes e padres católicos de mentalidade estrita, segundo a “Escritura”, têm menos capacidade terapêutica por possuírem uma visão mais pré-concebida e menos flexível ou adaptável (como requer o auxílio psicoterapêutico) (511-512, 518)
- o sacrifício individual de Cristo ao Deus interior, cumprindo sua designação, não importando o que a convenção de seu tempo indicasse. (521B)
- “imitação [superficial] de Cristo”. (522)
- a neurose é a cisão interior, do homem sensual e o homem espiritual. (522B)
- o egoísmo pode ser parte do caminho para si mesmo. (525)
- nossos freios morais perderam a força. (529A)
- “Às vezes a atividade autônoma da alma se exacerba a ponto de suscitar a percepção de uma voz interior ou de imagens visionárias, e criar uma experiência que, a rigor, constitui uma experiência original da ação do espírito no homem.” (535)
- o mestre Jung julga sua visão como sendo de “extrema esquerda” no “parlamento do espírito”. (537m)
- ele vê a Igreja Católica como salutar, mas ao mesmo tempo considera necessária a diversidade religiosa que ilustra a própria busca individual do ser humano. (537B)
De Psicanálise e direção espiritual:
- no par. 544, em meio ao discurso de Jung sobre uma necessidade maior do líder evangélico conhecer a psicologia com relação ao católico (mais alicerçado por mecanismos da Igreja, como o rito e a confissão), [também depreendemos que a pluralidade das igrejas evangélicas pode ser compreendida justamente pela independência de seus componentes em relação a grandes estruturas hierárquicas, o que lhes confere mais poder individual].
- sem embasamento teórico, o diretor espiritual evangélico estará sujeito ao processo de transferência em seu aconselhamento. (549)
Resposta a Martin Buber e O bem e o mal na psicologia analítica
A última parte do livro (a partir de Resposta a Martin Buber) traz mais textos do vol. 11, dos quais se destacam a própria Resposta e O bem e o mal na psicologia analítica.
Não à toa, esses dois foram os textos recomendados para leitura por Heráclito Aragão Pinheiro. O primeiro pelo esclarecimento de Jung contra às alegações de que ele seria agnóstico, teólogo, místico, metafísico, iogue etc., e o segundo sobre “os problemas éticos da prática clínica”, em especial sobre a questão da relatividade do “bem” e do “mal” ou de nosso julgamento sobre eles, sobre o que é o melhor para cada pessoa, visando evitar que o terapeuta assuma a postura de “salvador” ou sabe-tudo.
Das nossas próprias notas, da Resposta a Martin Buber:
- Jung faz uso da palavra “Deus” a partir do empírico e experienciável.
- cada fé possui seu “Deus” ou sua descrição de Deus.
- há uma relação dialética com os conteúdos inconscientes e arquetípicos, que podem caracterizar um confronto interior.
- as autobiografias de doentes mentais podem revelar os mesmos conteúdos interiores relatados por Jung, desta vez não podendo estar baseados em “pressupostos gnósticos”, que era uma das acusações de Buber.
De O bem e o mal na psicologia analítica:
- o bem e o mal são relativos, e dependem do momento.
- os sentimentos internos, existenciais, são superiores à aparência externa.
- O si mesmo de Jung e o atman está comentado separadamente.
- a apreciação do bem e do mal, da luz e das trevas, é uma oportunidade de encontrar a si mesmo [e o atman ou testemunha], justamente, no centro [você não é bom nem mau].
- o ser humano precisa, por vezes, resistir à tentação de entregar-se à melancolia.
- precisamos do mistério, do religioso, ainda que muitos de nossos “segredos esotéricos” sejam fictícios.
Carta à The Listener
Em uma entrevista à BBC de Londres, ao ser interrogado se acreditava em Deus, Jung respondeu: “I do not believe, I know”, Eu não acredito, eu sei (ou: eu conheço).
Essa afirmação fez com que grande parte das correspondências recebidas por ele inquirissem a respeito dela e levou Jung a escrever uma carta à revista The Listener (1929-1991) explicando sua concepção de Deus, “um fator desconhecido em si e ao qual denomino ‘Deus'” ou “a força do destino”, algo diferente do “Ser Supremo universal e metafísico do credo religioso ou das ‘filosofias'”. Complementa:
É sabendo da existência do confronto com uma vontade superior em meu próprio sistema psíquico que eu conheço a Deus, e mesmo que eu pretendesse ousar a hipostasiação, em si ilegítima, de minha concepção, ainda assim diria que conheço um Deus que está situado além do bem e do mal achando-se também em mim e fora de mim e por toda parte.
Jung, em Carta à The Listener
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