Não há nada, seja. Por Sadhu Arunachala (Major A. W. Chadwick)

Descobrimos este texto no canal Divulgación (em espanhol), que reproduz textos sobre a Não-Dualidade. Como a dicção do narrador é muito boa e são poucas as palavras dissonantes ao português, você também pode ouvi-lo no vídeo do texto original em espanhol: até o minuto 12:40 – após este, segue o texto Do sono profundo à iluminação, por Ramana Maharshi.
O texto em espanhol foi encontrado também no site nodualidad.info, o que facilitou sua tradução para o português, que por sua vez apontou como fonte o site Inner Directions, no qual não encontramos tal texto.

A filosofia de Sri Bhagavan [Ramana Maharshi], o maior dos sábios, pode ser resumida em apenas três palavras: “Não há nada”. Tão simples e tão extremamente difícil: “Não há nada”. Todo este mundo que você vê, esta corrida louca das pessoas atrás de dinheiro e “existência” é apenas um pensamento sem fundamento. “Não há nada”. Você, como personalidade, como uma pequena entidade que luta por seus próprios fins egoístas, sempre buscando a chamada “autorrealização”, não é nada.

Você é como a sombra de uma folha projetada pela luz da lua, intangível, insubstancial e, de fato, inexistente. E, assim como a sombra é um fenômeno puramente negativo, nada além de um bloqueio da luz, o ego e tudo o mais (pois tudo o mais está no trem do ego e, na realidade, é parte dele) são apenas um bloqueio da luz do si-mesmo.

Sri Bhagavan nos diz uma coisa mais. Ele diz: “Seja. Apenas seja seu verdadeiro si-mesmo, isto é tudo”.

“Certamente, parece bom”, você diz, “mas quando tentamos fazer isso, não parece tão fácil. Não tem um método?”

Método! Bem, o que exatamente você quer dizer com método? Sentar no chão e se concentrar no umbigo? Ou respirar pelas narinas alternadamente? Ou repetir um encantamento várias vezes? Não, não tem nenhum método. Todas essas coisas são, sem dúvida, boas para o caminho e ajudam a pessoa a se preparar, mas Sri Bhagavan não as ensina.

“Então, o que devo fazer?” Você só precisa SER, ele diz. E para ser, você precisa conhecer o “eu que é”. Para conhecer o “eu que é”, continue perguntando “Quem sou eu?” Não preste atenção em nada que não seja o “eu”, jogue todo o resto fora como lixo. E quando você finalmente tiver encontrado o “eu”, SEJA. Todo o resto é conversa, palavras vazias. “Não há nada” e ponto final. Não há método, nada para descartar, nada para encontrar. Nada é, exceto o “eu”. Por que se preocupar com qualquer outra coisa? Apenas SEJA, agora e sempre, como você era, como você é e como você sempre será.

“Não há nada. Você pode justamente perguntar: “Quem quer esse estado puramente negativo?”

Ao que só posso responder: “É apenas uma questão de gosto”. Observe, entretanto, que nunca sugeri que Sri Bhagavan tenha dito alguma vez que o estado final pelo qual, se supõe, todos estamos nos esforçando seja negativo. Pelo contrário, quando ele diz: “Não há nada”, é óbvio que está se referindo à nossa existência egoísta atual, que para nós é tudo. Mas este ser em que não há nada deve obviamente ser um estado que é algo. Esse estado é a Autorrealização. Não é apenas algo, mas é TUDO, e sendo tudo, lógica e filosoficamente, deve ser PERFEITO.

Você pode perguntar: “Se já somos perfeitos e não há mais nada, que necessidade temos de ir até Bhagavan?”

E isso me faz lembrar de uma história sobre mim mesmo. Um jornalista australiano foi ao Ashram. O motivo de sua visita era um mistério, e duvido que ele mesmo pudesse saber.

De qualquer forma, ele veio e, durante sua visita, veio me ver em meu quarto. Ficou evidente desde o primeiro momento que eu era um tremendo problema para ele. A razão pela qual um europeu deveria se fechar em um lugar como este estava além de sua compreensão. Ele fez muitas perguntas, mas nenhuma das minhas respostas o satisfez. Como poderiam fazê-lo? Especialmente porque ele não tinha ideia do que era o Ashram ou o que as pessoas faziam aqui. Eu nem sequer escrevo, então o que eu estava fazendo? Por fim, já não podia mais se conter e me perguntou sem rodeios o que eu estava fazendo aqui. Agora havia um problema para responder a ele. Se eu tivesse tentado lhe contar a verdade sobre o que havia realizado, ele nunca teria me entendido, então, fazendo uma boa cara, eu simplesmente lhe disse que aqui havia encontrado paz da mente. Eu sabia que era uma resposta inadequada, mas estava tentando evitar que ele fizesse mais investigações. Ele me olhou seriamente por alguns minutos e depois disse com compaixão: “Ah, entendo, nunca me senti afligido dessa maneira!”

Tudo o que consegui fazer foi confirmá-lo na convicção de que eu estava louco! E não havia, afinal de contas, alguma razão para acreditar nisso? Aqui eu passei (“desperdicei”, eu diria) metade da minha vida procurando por algo que já possuo. Sei também que a possuo, o que faz com que as coisas pareçam piores.

“Eu simplesmente SEJA”. Parece muito fácil. Bem, Sri Bhagavan diz que é a coisa mais fácil que existe. Eu realmente não sei. Acho que tudo depende da quantidade de lixo que há dentro de nós. De qualquer forma, somos todos diferentes e talvez alguns de nós estivemos incapacitados no início. É verdade que o lixo tem de sair e o processo de saída é cheio de surpresas. Todo tipo de vícios ocultos e tendências malignas começam a se manifestar e você nunca suspeitou que estivessem lá. Mas tudo isso é para o seu bem. Bhagavan diz que eles têm que sair. Mas deixe que saiam, não os controle. Não se entregue a eles.

Aqueles que esperam que Sri Bhagavan lhes dê a Autorrealização, como se fosse algo tangível, certamente estão tristemente iludidos. Como alguém pode dar a outro o que este já tem? Tudo o que ele pode fazer é ajudar a pessoa a remover a ignorância que a esconde. É como ir a um lago com um copo e sentar-se perto dele rezando para que o copo se encha de água. Você pode ficar sentado lá por mil anos, mas é certo que, a menos que se incline para frente e mergulhe o copo na água, nada acontecerá. Mesmo assim, é preciso certificar-se de que o copo não esteja já cheio com uma grande quantidade de resíduos. A maioria dos copos está!

Você diz: “Se não há nada, por que escrever?”

Sim, por quê? Tudo isso pode ser resumido em quatro palavras: “Não há nada, SEJA!” Quando se compreende essas quatro palavras, compreende-se tudo, inclusive o próprio Bhagavan.

Então, não há mais o que dizer!


[O eu real e a ação]

Um dia, quando um deles [discípulos] estava falando sobre fazer isso e aquilo, Bhagavan lhe perguntou: “Por que você acha que é você quem faz as coisas? Essa é a fonte de todos os problemas. É bastante absurdo, já que para todos é evidente que o ‘eu’ não faz nada. É apenas o corpo que age, enquanto o ‘eu’ é sempre a testemunha. Ficamos tão identificados com nossos pensamentos e ações que sempre dizemos: ‘Eu faço isso, eu faço aquilo’ quando, na verdade, não fazemos nada. Concentre-se em ser a testemunha e deixe as que coisas sigam seu curso. Além disso, elas continuarão fazendo-se por conta própria, você não pode evitar.”

Este é o ponto! As coisas seguirão seu curso; entretanto, Bhagavan ensinava que, embora não possamos detê-las, podemos observá-las à distância, sem nos envolvermos, como uma testemunha e não como um sujeito ativo. Esse é o propósito da vida e nisso consiste a sadhana.

Se me permitem, citarei algumas frases do livro de Devaraya Mudaliar, My Recollections [Minhas lembranças], que tratam especificamente dessa questão:

“A única liberdade disponível para o homem é a de esforçar-se para alcançar o jnana que lhe permitirá deixar de se identificar com o corpo. O corpo continuará a realizar as ações que não podem ser evitadas devido ao prarabdha (karma), mas o homem é livre para se identificar com o corpo e se apegar aos frutos de suas ações, ou para se distanciar de si mesmo e ser um mero observador do que o corpo faz.”

Para alcançar essa distância, Bhagavan ensinava o método da autoindagação: “Quem sou eu?” Quando conseguirmos isso, veremos que as ações já não nos pertencem, mas que são simplesmente necessárias para o funcionamento da totalidade.

Sadhu Arunachala (A.W.Chadwick)
A Sadhu’s Reminiscences of Ramana Maharshi
[Reminiscências de Ramana Maharshi por um Sadhu]

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