Jesus existiu
Há certas coisas que só quem experienciou pode dizer. Certas parábolas e analogias com o “reino dos céus”, certas abordagens atribuídas a Jesus são inéditas: não se encontravam nos elevados pensamentos filosóficos e mitos da Grécia antiga nem nos primeiros textos do Tao da China, nos manuscritos budistas antigos ou nos Vedas, épicos e Upanishads da Índia, embora essas culturas também tenham descrito, de outras formas, esses estados beatíficos.

Disto, tira-se a primeira conclusão lógica: tem de ter existido alguém que tenha proferido os conceitos espirituais e psicológicos originais que vemos em determinadas passagens dos evangelhos e que são atribuídos a Jesus. Para dizer o que disse, essa figura precisaria ter, além de conhecimento experiencial, clareza de visão da natureza existencial do ser humano e da Existência como um todo: não se tratava de um tipo qualquer ou de um simples revolucionário, mas de um mestre do si mesmo.
É fato que conhecimento existencial real, de “primeiro grau”, foi compartilhado. A tradição oral atribuiu esse conhecimento a certo Jesus, de Nazaré.
A outra alternativa é que tais ensinamentos não tenham surgido desse Jesus. Mas inevitavelmente eles hão de ter surgido de alguém, ou talvez de um grupo de pessoas. Então, esse seria o verdadeiro “Jesus” – logo, só pelo que temos documentado sabemos que algum Jesus tem de ter existido.
Perceba que não é necessário apegar-se à discussão de quem foi o autor, a fonte dos ensinamentos, de qual foi o seu nome. Ainda que provavelmente sua fonte tenha sido esse certo Jesus, ou Yeshua em hebraico, essa discussão pode ficar para os teólogos e historiadores; ela não é o ponto aqui. O que queremos dizer é que esse mestre, o “Jesus espiritual” existiu, e os ensinamentos desse Jesus são reais, estão vivos por si mesmos, e é deles que vamos tratar na descoberta e exposição do seu caminho.
A invenção do “Cristo”
O fato de os cristãos do primeiro século terem expandido, incrementado o Jesus histórico à condição mítica e divinizada que se verifica em Paulo e nos quatro evangelhos canônicos não invalida o fato de que ele era um ser autorrealizado. Jesus é real, mas o Jesus Cristo dos evangelhos e de Paulo é uma mistura de verdade e mito.
A arte de traçar o caminho de Jesus é exatamente separar o que é original de Jesus daquilo que a tradição colocou sobre ele – o que não foi pouco. Ao passo que o estudo crítico demonstra que muitas passagens são claramente desenvolvimentos cristológicos posteriores, outras permanecerão sempre como incógnitas, sendo absolutamente impossível saber exatamente sua procedência.
Não obstante, mesmo entre as passagens que a tradição mesma desenvolveu, podem haver lições interessantes ou a essência de algo que Jesus pode ter pronunciado – não é necessário descartar nenhum trigo junto ao joio. A parábola do filho pródigo talvez seja um desses casos.
Jesus se autorrealizou como “Deus” ou Todo
Se o jeito que Paulo e o Cristianismo entenderam Jesus estivesse correto, Jesus teria caído no engano do ego ou da individualidade, ao fazer com que o “Evangelho Messiânico” tivesse de ser espalhado por toda a Terra – coisa que gerou, e ainda gera, muito mais sangue e dor do que capacitações ao reino de Deus.
Antes que alguém recorra a Mc 16.15-16, avisamos que o trecho não passa no primeiro teste de historicidade: é amplamente reconhecido que os versículos 9 ao 20 de Marcos 16 são adições posteriores de escribas.
Neste caso, Jesus não seria um ser autorrealizado.
Mas o evangelho não é bem esse que eles entenderam e espalham…
Pelos motivos que estão sendo e ainda serão apresentados, as evidências são que Jesus sim se autorrealizou e foi o que podemos considerar um Avatar, uma manifestação plena do ser humano integral ou do Todo, que podemos chamar “Deus”.
Todos nós somos avatares, a diferença é que seres como Jesus sabem disto por experiência.
Baseados no fato de que Jesus não poderia ter simplesmente inventado histórias, parábolas perfeitas daquilo que é inefável e que não obstante é real, se não tivesse as experienciado, e que a crença cristã “não bate” com um caminho real ao “reino dos céus”, é que apresentamos O Caminho de Jesus.
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