O demônio da inveja

Esta imagem é o quadro Inveja, de 1306, de Giotto di Bondone. Como parece bastante descritivo, vamos a uma livre interpretação: A orelha esticada e os chifres dão um caráter demoníaco à figura. A cabeça enfaixada parece simbolizar a enfermidade que se encontra na mente.

O mal é representado pela serpente que sai da boca e volta-se contra a mente do seu próprio exteriorizador.

Uma mão está bem fechada segurando um saco de moedas, ouro ou provisões, enquanto a outra tateia para frente, com os dedos em forma de garras, indicando que quer pegar algo alheio.

Por fim, um fogo queima alto, mas vagarosamente, pois parece não incendiar, representando o tormento e a autodestruição que o personagem se inflige.

O dicionário Oxford Languages, classifica inveja como: – desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia; – desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem.

Liadh (ver links da citação abaixo) iguala inveja à emulação, ou seja, ao “sentimento que leva o indivíduo a tentar igualar-se a ou superar outrem” (Oxford Languages).

O Grimm’s German dictionary do Século 19 define: “A inveja expressa esse quadro da mente (‘estado de espírito’) vingativo e atormentador, o descontentamento com o qual se percebe a prosperidade e as vantagens dos outros, os inveja dessas coisas e, além disso, deseja que sejamos capazes de destruí-los ou possuí-los”.

Arthur Schopenhauer (1788-1860) acreditava que a inveja era natural para o homem e, portanto, fazia parte de todos nós. Ele acreditava que a inveja surgiu na “inevitável comparação entre a nossa própria situação e a dos outros”. Quando nos comparamos aos outros, destacamos nossas diferenças e, ao fazê-lo, destacamos nossas próprias inferioridades. Começamos a acreditar que somos infelizes por causa dessas coisas que nos faltam em comparação, e a inveja se insinua.

In Other Words – Envy or Emulation (em inglês) – Versão traduzida (automaticamente)

Aquele que não tem inveja de absolutamente ninguém, nem de nenhuma situação hipotética de sucesso alheio, está muito mais próximo da iluminação que a maioria de nós. Se for o seu caso, a reflexão abaixo não é para você, pode pular para a próxima página! 😉

Agora que já fomos devidamente apresentados ao demônio da inveja, meditemos sobre ele.

Demônio, do grego daimónios, derivado de daímôn ou daemon – poder divino, divindade ou ser divino inferior -, era o nome pelo qual Sócrates (469-399 a.C.) chamou seu gênio, seu próprio Ser interior ou o espírito que habitava dentro dele.

Dentro dele. Popularmente tendemos a pensar que demônios são criaturas horrendas que estão lá fora, com as quais a maioria de nós não compactua. Mas essas criaturas esta bem dentro de nós ou, mais precisamente, dentro de nossa mente. Como qualquer questão psicológica, aceitá-la é o primeiro passo para superá-la.

A mente assumiu o posto de Imperatriz Suprema deste mundo. Para permanecer no cargo e não ser rebaixada à sua posição original e mais satisfatória de excelente serva, ela criou um aliado poderoso, o Ego, ou a sua própria identificação como um ente isolado dos demais. Reconhecendo-se como diferente, uma das funções do Ego é proteger a mente, o corpo e quem mais ela identificar como sendo o eu – diferente do outro. Proteger de tudo e de todos que venham a ameaçá-los, como por exemplo lutando com afinco para defender ou impor sua individualidade, alguma superioridade que possua com relação aos outros, suas ideias, etc.

E o Demônio da Inveja é um dos ministros mais importantes nesse governo da Mente/Ego. Parece que ele não foi nomeado oficialmente, mas sorrateiramente comanda ações e respostas importantíssimas na manutenção do eu, dessa individualidade separatista. Se aparece alguém mais bonito, ou mais inteligente, ou mais iluminado (!!!), ou mais alto, ou mais forte, ou mais magro, ou mais culto, ou mais rico, ou mais, ou mais, ou mais…, o Demônio da Inveja rapidamente prepara relatórios e respostas para a mente, por exemplo: “Ele é rico mas seu lar não deve ter paz!”, “Ela é jovem mas tem dentes tortos.”, “Ele é lindo, mas que bom que ele é gay, assim não preciso me preocupar!”, etc., promovendo assim a autossatisfação e proteção do eu. O que esse demônio gosta mesmo é quando alguém bem famoso ou bem sucedido fala ou comete alguma besteira! Como nos regozijamos ao ver que mesmo em nosso estado medíocre somos superiores a alguém!

Mas a função mais sombria desse ministro é torcer contra os outros, principalmente aqueles que estão no mesmo nicho, mercado ou estado da vida do que o euzinho. E muitas vezes não se detém só no torcer, articula para que sejam tomadas providências para a falência das intenções do outro eu. Então, se eu tenho uma agência de viagens, me contorço de inveja quando leio sobre o sucesso estrondoso de outra agência que, pior, tem como dono alguém do mesmo sexo e/ou idade do que eu! Como eu vou me sustentar ou reproduzir se houver tantas pessoas mais bem sucedidas do que eu? Eu, eu, eu…

A inveja corrói o invejoso

Esse demônio costuma atuar em todas as esferas, e candidata-se a conselheiro de uma mente que codifica um projeto de espiritualidade. Se aceitar seus conselhos, doerá para essa mente ver que outras mentes, portanto mais evoluídas, também estão difundindo suas mensagens para buscadores. Doeria até mesmo ver a Verdade estampada em todos os jornais porque foi milagrosamente decodificada para humanos pelo youtuber O Outro, porque não fui eu, ou euzinho, o Salvador da humanidade! Eis o motivo desta reflexão.

O maior prejudicado da inveja é o próprio invejoso, a inveja o corrói.

(Aliás, o arquétipo do Salvador – um aspecto do arquétipo do Herói de Jung – é outro belo motivo para reflexão.)

Se também você precisou refletir, que tal imprimir ou revisitar sempre este quadro tão real composto por Giotto di Bondone? Poderás fazê-lo até que a própria mente consiga rir de si mesma e ajude a exorcizar esse demônio. Lembre-se que a mente toma a forma de suas modificações (pensamentos, emoções), então de fato olhar um quadro assim, às vezes, é como olhar-se no espelho!

Na mitologia grega, Ftonos ou Phthónos (em grego Φθόνος, “inveja”, “ciúme”) é a personificação e o deus dos ciúmes e da inveja. Por muitas vezes é comparado e ligado à deusa do caos e da discórdia, Éris por sempre causar os mesmos efeitos que a deusa, usando e abusando do ciúmes e inveja para criar brigas entre todos. Além disso, ambos são daemons.

Wikipédia » Ftono

Ignorância

A inveja é fruto de nossa ignorância básica: não sabemos que somos o outro; o seu objeto de inveja é parte de você, é você, e desejar ou fazer o mal para ele é fazê-lo a si mesmo. Comparar-se ao outro com sentimento de inferioridade (e superioridade também) só reforça nosso sentimento de ego, de separatividade. Se você for capaz de sentir-se o outro, o Todo, tudo, não haverá mais como sentir inveja. Você passará a se sentir orgulhoso porque aquela manifestação de você foi bem sucedido, assim como poderá compartilhar o pesar e a responsabilidade quando outras partes de você (outras mentes/pessoas) ainda praticarem o mal.

Sem meditação não há solução

Parafraseando a frase de Roberto Freire tão citada por Dhyan Prem – “Sem tesão não há solução” -, para muitas situações só a meditação salva.

Desperta! Não existe esse negócio de eu e outro. “Tu és Aquele!” Ele é Aquele! Deponha a Mente do cargo que você deixou ela tomar em sua vida, torne ela sua funcionária, e a vigie, senão ela vai te convencer novamente que o mundo dela criado a partir da diferenciação é o Mundo Real, ao invés do Domínio Real da Alma.

Sim, todos os dias faça uma meditação como Atma-Vichara (“Quem sou eu?”), e reafirme que você é o Todo, você é a existência, que o ego é pura ilusão, projeção ou alucinação mental como tudo o que a mente cria por si mesma.

Pesquise aqui referências a Inveja no site.

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