2008 – 1ª edição da editora (publicado anteriormente pela Editora Best Seller)
Título original: Jesus Lived in India (1983)
Madras Editora
Antes de ler esta análise e outras da seção Outros textos analisados, considere que não acreditamos que o esclarecimento minucioso ou científico (e impossível) sobre a vida de Jesus do ponto de vista histórico seja o mais importante. O que buscamos são pegadas dos ensinamentos originais de Jesus – que chamamos de O caminho de Jesus – que possam nos ajudar no caminho espiritual, de autoconhecimento, que, debaixo de algum véu de pensamentos doutrinários, estão nos evangelhos canônicos e em alguns apócrifos, como o Evangelho de Tomé.
O mesmo se pode dizer sobre Krishna. Para o buscador, não importa se ele foi um personagem histórico ou não; os reais ensinamentos de Krishna e Jesus não são para a mente analítica, falam da transcendência desta, da busca de nossa verdadeira natureza.
O que o livro não aporta
Ao contrário do que dá a entender no título, este livro não apresenta citações inéditas ou ampliações das conhecidas que poderiam ter sido de Jesus, ou uma descrição vívida do que teria sido sua vida dos 12 aos 30 anos (a lacuna perdida nos evangelhos) e após a crucificação. Então, do ponto de vista do autoconhecimento, não ajuda muito.
Um dos apontamentos que Kersten traz é que Jesus teria sido o Issa de A vida de São Issa , um texto que teria sido encontrado em 1887 por Nicolas Notovitch em um monastério budista. Porém, mesmo se a obra foi realmente encontrada ali (e não forjada) e que em algum momento tenha existido um Issa de relevância no mundo antigo, as falas do personagem desse texto, embora apresente trechos belos, não são a de um homem iluminado nem lembram àquelas de Jesus.
O autor cita também passagens inconclusivas do Alcorão (ditado pelo “anjo Gabriel” a Maomé no século VII d.C.). Ele associa o nome Issa a Jesus no Islã porém, ao contrário do Issa do texto de Notovitch, que confirma a versão canônica da morte do nazareno na cruz (cap. 1 vers. 2), segundo a interpretação dos trechos do Alcorão feita pelo autor, Jesus não teria sido crucificado ou morto. Isso condiz e se cruza mais com a relação apresentada entre Jesus e o profeta Yuz Asaf.
Kersten faz referências também a outras duas fontes absolutamente inconfiáveis, o Evangelho de Nicodemos e o Evangelho Aquariano de Jesus Cristo.
Pontos interessantes do livro
Acreditamos que Jesus Viveu na Índia seja uma obra que vale a leitura por alguns pontos.
É sempre bom manter a mente aberta a novas informações e interpretações diferentes que, mesmo que não sejam 100% acuradas ou corretas, podem nos abrir lacunas para insights preciosos.
Paulinismo
Logo na introdução do livro, o autor repercute, com correção, que o Cristianismo que vivemos hoje nas igrejas cristãs seria mais bem nomeado como Paulinismo, pois os preceitos de Paulo e sua doutrina da salvação da alma pela remissão dos pecados através da crucificação de Jesus caracterizam a religião muito mais do que os ensinamentos de Jesus.
Essa linha de pensamento era pública no século XX (a ver pela Bibliografia ou final do livro) e foi abastecida a partir de 1956, quando começaram a ser publicados os textos encontrados em Nag Hammadi, entre eles o Evangelho de Tomé.
Por força da influência das igrejas e seus líderes no pensamento dos cristãos “praticantes”, essa constatação não se torna conhecida da grande massa, pois sua admissão e prática por parte das igrejas iria contra um de seus principais fundamentos, premissas e razões de existir.
A migração de judeus para o leste e Caxemira
O autor traz considerações importantes sobre a origem étnica do povo da Caxemira, derivada da migração das “dez tribos perdidas de Israel” para diferentes pontos do oriente.
O possível contato de Jesus com o Budismo
Siddharta Gautama, o Buda histórico, viveu 5 séculos antes de Jesus e seus ensinamentos eram difundidos para além do subcontinente indiano, para a “Síria, Grécia e Egito”, por exemplo. Pelo que professa, é realmente possível (para não dizer provável) que Jesus tenha tido contato direto ou indireto com o ensinamentos do Buda.
Obs. (não é do livro): se não pela via budista, pelo teor de seus ensinamentos Jesus pode ter aprendido também de outras fontes, como hindus, taoistas ou ainda das escolas de mistérios e mestres do próprio Egito, já que este país é tão próximo a Israel que, sob ameaça de Herodes, é para lá que José teria fugido com Maria e o Jesus bebê (Mateus 2.13-15).
Jesus era de Nazaré, ou nazareno?
O epíteto Nazareno atribuído a Jesus teria origem, segundo o autor, na palavra nazar:
‘A palavra “Nazareno” deriva da palavra aramaica nazar palavra aramaica nazar, que significa vigiar, observar ou confessar. Em sentido figurado pode também significar jurar ou colocar-se a serviço de Deus. Usado como nome, significa um diadema, o símbolo usado na cabeça de um ungido. Assim um “nazareno” era alguém que observava ou celebrava os ritos sagrados. “Nazaria” era um ramo dos essênios…‘
Jesus Viveu na Índia (Holger Kersten) » Capítulo 3 » Jesus Nazareno
O sudário de Turim
O sudário de Turim é, até hoje, um mistério. Tanto que, ao que parece, a imagem de Jesus que temos hoje, um homem de cabelos compridos e barba, tem muita influência desta peça. As considerações do autor sobre o lençol são bastante interessantes, com a intrigante possibilidade dele ter sido usado para envolver um homem – que havia sido crucificado – enquanto ele ainda estava vivo e sangrava.
Isso abre a brecha para Jesus ter sobrevivido à crucificação, escapado e fugido. Acho improvável. Impossível? Não. O fato é que não temos citações extra-ordinárias documentadas na época atribuídas a ele, após sua crucificação. Novamente, para o buscador espiritual, não é este o ponto.
Yuz Asaf
Aqui, Kersten traz a possibilidade de Jesus ser Yuz Asaf, um profeta que realmente existiu, “pregou para o povo e declarou ser uno com o Altíssimo e foi um legislador para o povo”, e que chegou à Caxemira dezesseis anos após a crucificação de Jesus. Porém Kersten também cita um historiador que relata que Yuz Asaf teria chegado à Caxemira durante o reinado de Gopananda (Gopadatta) no ano 106 da era Cristã, quando Jesus teria, se vivo, entre 110 e 113 anos.
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Conheça também
A semente de mostarda (Osho)
A semente de mostarda é uma coleção de 21 discursos proferidos em 21 dias seguidos por Osho em Poona (Índia) em 1974 sobre ensinamentos de Jesus presentes no Evangelho de Tomé, que teve seu mais completo manuscrito descoberto em escavações em dezembro de 1945, próximo a Nag Hammadi, no Egito.
Osho lança luz para além da interpretação teológica convencional sobre as palavras de Jesus presentes neste documento, que permaneceu totalmente marginalizado pela Igreja, não obstante possua muitas passagens em comum com os evangelhos canônicos, como a própria parábola da semente de mostarda
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