Trabalhe com desapego

“Portanto executa sempre sem apego o ato a ser cumprido, pois o homem (purusha) que executa ações sem apego alcança o Supremo.”
Bhagavad Gita 3.19, Tradução de Georg Feuerstein

Vimos em karma que o efeito de toda ação que o ser humano executa retorna para ele mesmo. Isso o prende na roda de samsara. Segundo o Gita, a única maneira de se libertar desse ciclo é não nos apegarmos às ações. Assim, nem as ações boas nem as más terão qualquer efeito sobre nós e não serão limitadoras para a alma.

Como não nos apegarmos às ações? Através do desapego (vairagya) ao fruto da ação, ao seu resultado. Praticando-as sem esperar nada em troca.

A chave está em realizar a ação com desprendimento, sem eu, sem ego. Não é mais você como eu individual quem está trabalhando, mas a Existência está agindo através de “você”. Entregue-se ao Absoluto de todo coração antes de cada ação, e o agir ou trabalhar passa a ser um fluir com a Existência, num esquecimento de si mas ao mesmo tempo consciente de tudo que faz – contudo, o centro da consciência se aprofundou.

Quem faz a ação? Na entrega do coração ao divino, o karma iogue passa a enxergar o divino como o único autor, libertando-se do ego e alcançando a experiência de Unidade. Ao entregar a vida e todo o seu ser nas mãos do Absoluto, ele sente-se livre de toda a preocupação e receio do que possa lhe advir no futuro: faça-se a Tua vontade. (Jesus de Mateus, 26:42)

Você pode também imaginar que está a ofertando ao divino em cada ser a quem você está servindo, ou mesmo a Deus – que obra sem interesse -, com espírito de doação anônima e de entrega, não esperando assim nenhuma recompensa, nem mesmo as espirituais, pois são todas elas que nos prenderiam à separatividade. Então, deixamos de trabalhar só pelo dever; o trabalho aí passa a ser uma adoração, um ato de devoção.

“As pessoas mundanas tornam-se carmicamente presas pelas atividades que são diferentes das que se realizam como yajna (ritos religiosos); ó Filho de Kunti (Arjuna), sem qualquer apego, trabalha com o espírito de yajna, entregando tuas ações como oferendas.”
Bhagavad Gita 3.9 – Tradução de Paramahansa Yogananda

Ver também: Renúncia ao reconhecimento