“Imagine o espírito simultaneamente dentro e à sua volta, até que todo o universo espiritualize-se.”
Vijnana Bhairava Tantra meditação 19 (transcrito por Paul Reps e traduzido por Albecy Cavalari e Rafael Blanco em A Carne e os Ossos do Zen, p. 225)
A não-dualidade é a percepção existencial de que não há dois, tudo é “um”. Nossa essência é una com a Existência, ela é a própria Existência.
A diversidade, a multidão de seres se deve à ilusão ou maya do sentido de eu.
A experiência espiritual de cada um de nós irá defrontar-se com dois tipos básicos de abordagens, a dualista e a não-dualista.
Não-dualismo (Monismo)
Da constatação da não-dualidade, surge o Não-dualismo ou Monismo, conceito religioso e filosófico segundo o qual criador e toda criação – incluindo as criaturas – são um. De que nosso eu real ou verdadeiro ser (atman) nada mais é o que o Todo (o inominável, inefável, chamado nas Religiões Hindus de Brahman), o Fundamento-universal de todas as coisas. Em outras palavras, atman como alma individual não existe, senão como um aspecto do todo – ou podemos expressar que atman é este Todo, o que é o mesmo que dizer que somente Brahman existe.
Em termos históricos e transcendentais, podemos dizer que o monoteísmo, grosso modo, é uma consolidação dos atributos dos deuses do politeísmo em um único ser, Deus, e que o monismo é a consolidação ou união desse Deus com o próprio ser que experimenta a realidade.
Não-dualidade é advaita em sânscrito, o que nomeia a visão Advaita Vedanta, que faz essa leitura de textos hindus como as Upanishads e o Gita.
A linhagem Shaiva do Tantra também se caracteriza pelo não-dualismo, como pode ser observado em manuscritos como o Vijnana Bhairava Tantra e os Shiva Sutras.
“Sinta sua substância, ossos, carne, sangue, saturados com a essência cósmica.”
Vijnana Bhairava Tantra meditação 23 (transcrito por Paul Reps e traduzido por Albecy Cavalari e Rafael Blanco em A Carne e os Ossos do Zen, p. 225)
Outra tradição que remonta à não-dualidade é o Tao.
Entre os rishis ou sábios autorrealizados modernos que apontam na direção da não-dualidade podemos destacar Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj.
Já Osho possui um ensinamento fundamental ou talvez mesmo central de “entrega do ego ou do eu” que é a própria essência da não-dualidade, mas por ele falar de diversos temas e caminhos espirituais, esse tema é encontrado mais em alguns de seus discursos ou livros do que em outros.
Podemos também encontrar afirmações da Não-dualidade em outros caminhos.
Não-dualidade no Cristianismo
No Evangelho de João lemos:
“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.”
Jesus de João 17:21-23
Em 16:28, o autor fala da unidade entre Jesus e o Pai.
O sentimento de transcendência do ego é experimentado por Paulo. Na Epístola aos Gálatas 2:20, o apóstolo fala “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. A única diferença para uma não-dualidade “sem forma” é que ele manifesta que a Existência vive nele na forma de Cristo.
O batismo cristão consciente também pode exercer a função de transcendência ao eu, à medida em que é um rito de passagem que marca um renascimento, a transição do antigo homem, de ambições individuais, para uma nova criatura, que vive em Deus.
“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
(…) E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Jesus de Mateus 25.34-40
Ainda que falte ao Cristianismo em geral base teórica e doutrinária para a visão não-dual, essas passagens e fatos demonstram que se pode perfeitamente tê-la sendo cristão.
Transcendendo a dualidade
“Acredite-se onisciente, onipotente, penetrante.”
Vijnana Bhairava Tantra meditação 84 (transcrito por Paul Reps e traduzido por Albecy Cavalari e Rafael Blanco em A Carne e os Ossos do Zen, p. 232)
Nós saímos, fomos emanados pelo Todo, que você pode chamar Deus, habitamos nele/a e nosso destino é voltar para ele/a.
A grande tarefa de nossas vidas é tomar novamente a consciência de que nós somos Ele/a. Para isso, temos de nos perceber além de Prakriti, a criação, o universo material, no qual a própria mente está inclusa, com seus aspectos mental, emocional e até espiritual (enquanto o espírito ainda é individual).
Enquanto o ser vaguear pelo mundo e, sob o feitiço de maya, julgar-se diferente de Brahman e de outros seres, será impelido pelo seu próprio karma na roda de nascimento e morte. Aquele que nega a própria individualidade nega também o karma individual e o esgota, podendo reconhecer-se como sendo Um com Brahman.
Toda ação egótica é ignorância e seu oposto é o conhecimento. Uma criatura é aprisionada pela ação e liberta pelo conhecimento.
A maior ilusão é o eu individual, conforme nos explica Ramana Maharshi em Do sono profundo à iluminação.
“Essa consciência existe como todo ser, e nada mais existe.”
Vijnana Bhairava Tantra meditação 99 (transcrito por Paul Reps e traduzido por Albecy Cavalari e Rafael Blanco em A Carne e os Ossos do Zen, p. 233)
Todas as diferenciações entre homens, animais, insetos, coisas, habitantes de mundos superiores, etc., são criadas pelo falso conhecimento induzido por maya, pelo sentido de eu (ego), pela separatividade, e são mera ignorância. Assim, um passo importante é livrar-se da ideia de “eu e meu” e de outras ideias ilusórias.
O universo inteiro de separatividades ilusórias é projetado pelo efeito de maya e percebido pela mente como sendo a realidade. Quando a mente é refreada, controlada, essa separatividade, dualidade, não é percebida. Tornamo-nos um com a existência. E percebemos que a realidade última, fundamental, é unidade.
Prática
Conforme os ensinamentos de Nisargadatta Maharaj, se você se comportar plenamente convencido da não identificação com o corpo e a mente, a confiança e a realização virão. Muitas vezes, somente a parte intelectual do Jnana Yoga encontrada nos mestres e livros (como os abaixo) pode não ser suficiente. A não-dualidade prática, através da ação desprovida de interesses pessoais, pode ser perfeitamente observada no Karma Yoga.
O resplandecente Uno [Deus] permanece oculto em todos os seres. Ele é onipresente e, é o ser interior de todos os seres. Ele preside todas as ações e habita em todos os seres. Ele é a testemunha [sakshi] e, é a consciência. Ele é uno [absoluto, sem segundo] e sem atributos [nirguna].
Ele é o governante único de muitos que não agem [ou o governante que não age]. Ele faz a única semente multiplicar. Os sábios [ou bravos], que o percebem em si mesmos [ou no interior de todos os seres {Tinôco}], a eles a felicidade eterna; não para outros.
Shvetashvatara Upanishad VI.11-12 (baseado na tradução do site Mokshadharma
Nodualidad.info
Nodualidad.info é um site em espanhol que reúne diversos artigos sobre não-dualidade:
Livros sobre Não-dualidade
- Antes da consciência: Conversas com Sri Nisargadatta Maharaj
- Eu sou Aquilo: conversas com Nisargadatta Maharaj
- O remédio definitivo: Tal como prescrito por Sri Nisargadatta Maharaj
- Veja também (títulos sobre Não-dualidade em outras categorias)
Manuscritos sobre Não-dualidade
Pesquise aqui referências a Não-dualidade no site.
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