Deus é Aquilo ou Aquele que não pode ser entendido pela mente humana. Quando formos além dela, poderemos conhecê-lo (dizendo melhor, experienciá-lo), antes disso apenas podemos reproduzir o que aqueles que dizem que o conheceram disseram. Mas mesmo as palavras deles, passadas pelo crivo de suas próprias mentes e das nossas, não poderão descrevê-lo.
Aquilo não é pessoal, não tem uma personalidade, preferências, povos escolhidos.
Personificar ou delimitar Deus é reduzi-lo.
Embora as pessoas se relacionem com “Ele” como o fazem em interações humanas, tal relacionamento com Deus pode ser ilusório: costumamos dar uma “roupagem”, uma mentalidade humana a Deus. O Deus bíblico, por ex., tem em si projeção de todos os defeitos e qualidades humanos.
A maneira mais eficiente de se chegar a Aquilo é desfazendo-se de sua própria personalidade, ao invés de atribuir uma personalidade a ele.
Muitas pessoas preferem ter um relacionamento com Aquilo como se “Ele” fosse uma pessoa. Nesse caso Aquilo é encarado como o sr. Deus, ou como Jeová, Alá, Jesus, Krishna ou Shiva.
Existe uma brecha aí. Quando você procura um relacionamento com Deus e espera uma figura dele, uma personalidade, é possível que um ser venha a assumir esse papel. Pode até acontecer que o ser que se apresente como Deus pense que é o próprio Sr. Deus pessoal, num processo do ego, ou saiba que é um ilusor. De qualquer maneira você pode perder algum tempo com isso, pode haver um domínio inteiro de encarnados e desencarnados que acreditem na mesma coisa, e que projetarão e criarão a ilusão necessária para a materialização desse domínio como acreditam que ele é.
Às vezes, também, seres que se identificam como a Existência falam a partir dessa Consciência, como o Ser – assim como Você, como “alma”, também é -, como já falaram Buda, Krishna e Jesus e, se tentarmos interpretá-los apenas pela visão do ego, da separação, ou seja, se pensarmos que eles estão falando a partir do ego, do cara chamado Buda, Krishna e Jesus, perderemos boa parte do que disseram (e de certa forma ainda estão dizendo).
Nossa dificuldade está no ego. Como temos um ego, temos que projetar e atribuir um ego para todos os outros. Não admitimos que alguém não tenha um ego. E assim, se alguém o transcende, não conseguimos compreender o que está sendo falado a partir do ser, que deveria ser ouvido não com a mente, com o ego, mas com o coração ou com o ser.
Quatro cegos reuniram-se um dia para examinar um elefante. O primeiro tocou na perna do animal e disse: “O elefante é como uma coluna”. O segundo apalpou a tromba e disse: “O elefante é como um rolo”. O terceiro apalpou a barriga e disse: “O elefante é como uma grande moringa”. O quarto balançou a orelha do animal e declarou: “O elefante é como um grande abano”. Depois começaram e discutir. Um passante perguntou-lhes a razão da discussão, e os cegos pediram ao homem para decidir a questão. O homem disse: “Nenhum de vocês viu direito o elefante. Ele não se parece com uma coluna, mas suas pernas são colunas; ele não se parece com um abano, mas suas orelhas são um leque. Ele não tem a aparência de um rolo, com exceção da tromba. Não tem também o aspecto de uma moringa, a não ser a barriga. O elefante é uma combinação de tudo isso: pernas, tromba, orelhas e barriga”.
Assim discutem os que viram apenas um aspecto de Deus.
Ramakrishna – Revista Planeta Especial Ramakrishna de fev/1975
O Todo ou Absoluto
Na Índia, às vezes chamam-no de brahman, a Consciência transcendente e também expansão universal emanente e imanente, O Todo, Absoluto ou Espírito Universal.
Mas brahman não é hindu, não é nacional, não é sectário. Brahman é um nome, uma PALAVRA. Uma palavra para a qual não existe correspondência nas línguas modernas, pois não foi proposta ou concebida tal ideia nessas culturas. Assemelha-se ao que os nativos chamam Grande Espírito, por ex. o Wakan Tanka dos Dacota.
chela » Brahman (O Todo)
Brahma (sem o n no final) é o aspecto criador de Brahman. Novamente Brahma também não é um cara, mas uma personificação do inefável.
Devido às religiões hindus não serem apenas uma religião (não existe um Hinduísmo como existe um Cristianismo) nem uma única corrente religiosa ou filosófica mas muitas, há dentre elas as que veneram um aspecto ou personificação do Todo como sendo um Deus pessoal, como Vishnu na figura pessoal de Krishna (mas este também é reconhecido como a própria consciência numa visão não-dualista), ou como Shiva, que igualmente é visto como a Deidade tanto num sentido dual (onde, como nas grandes religiões cristã e islâmica, Deus ou Alá, em árabe, está separado de você) como não-dual – neste último caso, Shiva ou Deus é você. Há também o Shaktismo, que considera brahman e suas manifestações como a Deusa (Shakti) e as deusas ou suas personificações. Brahma é menos cultuado.
Seu ser e Deus
Deus não é pessoal, não é uma personificação.
Deus só pode ser existencial – não meramente sensorial.
Deus é uma realização. Ele aparece quando “você” desaparece. Quando abandonamos a nossa personalidade e individualidade, quando resta somente aquilo que é, o que é real, a verdade, a Existência ou Deus surge. Em termos existenciais, é preferível dizer que a divinidade, a qualidade de ser divino, surge.
Deus dentro e fora de nós
Talvez a maior parte das visões religiosas afirmem de uma forma ou de outra que Deus, a Existência ou algo dele ou dela está em nós, ou ainda que está em tudo.
É curioso notar como os ditos a esse respeito de Jesus e seus seguidores podem relacionar as duas coisas. Vejamos Lucas 17.20-21 em boas traduções da Bíblia. Primeiramente a Almeida Revista e Corrigida (ARC), mais antiga, traz:
E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeu-lhes e disse: O Reino de Deus não vem com aparência exterior.
Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus está entre vós.
Lc 17.20-21 (ARC),similar à Bíblia do Peregrino
Duas atualizações diferentes da ARC, a Almeida Revista e Atualizada (ARA) e a Almeida Corrigida Fiel (ACF), trazem:
Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência.
Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós.
Lc 17.20-21 (ARA), similar à ACF e à King James
A palavra usada por Lucas é entos (ἐντὸς), dentro. O texto grego original não traz o artigo genitivo (em português seria a preposição “de”), mas o pronome ὑμῶν (himon) está flexionado no genitivo (um “atributivo”, como quem responde à pergunta “de quem?”), que implica um “de” na tradução. Está escrito “dentro [de] vós”, o que deu margem a essa dupla interpretação, com a ausência do artigo justificando a variante que amplia o “dentro” do micro (ser humano) para o macrocosmo, resultando em “dentre vós”, “entre vós” ou “está em seu meio”.
O único outro uso da palavra entos no NT foi feito por outro evangelista, Mateus, que em 23.26 a utiliza significando “dentro”, acompanhada pelo artigo [/preposição] “do” – ausente em Lucas – utilizado duas vezes (gregos τοῦ [tu] e τῆς [tes]), para se referir ao interior [dentro] do copo e do prato.
Não sabemos dizer até que ponto a tradução “o Reino de Deus está entre vós” foi forçada pela teologia cristã, porque nela pode-se interpretar que o Reino está “presente e ativo entre eles, na pessoa e ação de Jesus” (comentário da Bíblia do Peregrino) ou na dele e de seus coligados ou discípulos, que a comunidade cristã posterior lerá como ela própria. Ainda que “entre vós” seja adequado e existencialmente correto, tal interpretação que sectariza o Reino de Deus, a Existência, não o é.
A versão paralela e possivelmente dependente de Lc 17.20-21 no Evangelho de Tomé, dito 113, ajuda a aclarar a questão:
Os seus discípulos disseram-lhe: Em que dia virá o reino? <Jesus disse:> Não virá enquanto as pessoas o esperam; não dirão: Olhai, aqui está, ou: Olhai, ali está; mas o reino do pai está espalhado sobre a terra, e os homens não o veem.
Evangelho de Tomé, dito 113, tradução Beate Blatz
Nela, ao invés de fariseus são os discípulos que perguntam em que dia [quando] virá o reino.
Esse dito de Tomé endossa a leitura “entre vós” em Lc 17.21, mas agora com sentido claramente universal.
Tomé traz outro dito relacionado a eles:
Jesus disse: Se aqueles que vos guiam vos disserem: Eis que o reino está no céu, então as aves do céu irão adiante de vós; se vos disserem: Está no mar, então os peixes irão adiante de vós. Mas o reino está dentro de vós, e está fora de vós.
Evangelho de Tomé, dito 3A, tradução Beate Blatz
Esse impactante dito reúne as duas hipóteses em uma síntese: “dentro” (copta xoun [ϩⲟⲩⲛ]) e fora. Revolucionário? Então leiamos no Deuteronômio:
Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti.
Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.
Dt 30.11-14 (ACF)
Esse talvez talvez tenha sido lembrado pela comunidade que moldou o ev. de Tomé por suas referências em Baruc 3.29-30 (séc. II AEC) e Romanos 10.6-8 (c. ano 57), que o reformulou atribuindo o sentido de “reino” de Jesus ao dito 3A.
Lc 17.21 e To 113 podem tanto ter se originado no próprio Jesus como terem sido criados como resposta da comunidade cristã primitiva para a demora do fim dos tempos ou chegada do reino dos céus (ver também dito 51), mas elas contêm uma verdade espiritual: o reino dos céus está dentro e fora de nós, muito bem demonstrada em To 3A. A existência manifestada aqui agora é o Reino de Deus – aquele que a experimenta é Deus.
A experiência de totalidade ou de Deus se dá quando transcendemos nosso eu individual.
Na verdade, “dentro” e “fora” são meras ilusões. Tudo é um. Mas se você tiver de escolher por onde começar, comece por dentro, pelo interior, porque se você não realizar primeiro o seu ser dentro, não poderá perceber que ele é o próprio reino e não poderá, realmente, vivenciá-lo fora. Pois a experiência existencial começa dentro, só pode começar dentro, a partir do seu ser.
Temos o hábito de nos projetar no futuro e perder o agora. Imaginamos a vida vindoura e esquecemos que já, aqui e agora, estamos vivendo em um reino de Deus. É uma questão apenas de metanoia, de mudança de mente:
“Mudai vossa percepção, pois o reino dos céus está próximo” (Mt 4.17)
Talvez somente quando tivermos partido daqui daremos valor a este mundo, a esta Terra.
Autoconhecimento
Tem muito religioso para quem se você disser: “você não é a sua mente“, não acreditará ou se rirá de você ou de surpreso. “Você não conhece nem a si mesmo, como conhece a Deus?”
Se uma pessoa autorrealiza seu “eu” real (além do eu ilusório e da mente), seu ser, percebe-se como essa alma gloriosa e infinita, ilimitada, como Consciência Cósmica. Já não existe um sentido de eu, apenas um sentido de ser, um êxtase.
Você não pode conhecer ou provar o Absoluto pela mente, pelos sentidos nem pelo intelecto, mas pode des-envolver-se para perceber o Absoluto Interior.
Há muitos caminhos para essa realização interior, mas é bem difícil imaginá-la sem alguma forma de meditação. No yoga, por exemplo, o caminho para o divino passa também pela interiorização: deixar de ocupar-se com a multidão de atividades e estímulos externos, que através dos sentidos chegam à nossa mente – que é talvez o mais ocupado ou aflito sentido -, para voltar-se para o mundo interior.
O Vedanta Não-dualista, baseado nas Upanishads, considera que atman é brahman, ou que o ser ou “alma” é o próprio Espírito Absoluto. Ao realizar ou atingir a consciência como atman, realiza-se o divino, que assim é alcançável, percebível por e como um elevado estado de consciência.
Outras escolas e sistemas hindus indicam seus tipos de separação, mais ou menos sutis, entre atman e brahman, mas também nelas a autorrealização de atman não deixa de ser extática, gloriosa, divina.
Deus pessoal ou personificado
O ser humano pode viver uma vida tremendamente rica, feliz, extasiante. Mas a primeira coisa é: ele tem que aceitar sua responsabilidade. Todas as religiões têm ensinado as pessoas a fugir da sua responsabilidade de jogá-las nas costas de Deus. E não existe Deus nenhum…
Osho, em Iluminações da Alma (Passagem 147)
Livro
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