Atma-vichara é a autoinvestigação ou autoinquirição, ou seja, a reflexão e deliberação minuciosa (vichara ou vicara) a respeito do atman (o eu real). Ela é o método meditativo Quem sou eu? de Ramana Maharshi. É uma execução prática de Jnana Yoga ou yoga do autoconhecimento.
Atma-Vichara é um método de autoanálise que visa levar a pessoa ao conhecimento de si própria, e daí ao ser puro, à sua consciência sem limites ou cósmica. Este método pode ser praticado por todos, independentemente de crença religiosa.
Esta técnica, não obstante sua simplicidade, possui um grande poder. Irá, de fato, aumentar gradativamente sua autoconsciência e seu autoconhecimento. Colocada em prática continuamente, dia após dia, lhe conduzirá à mais profunda meditação. Não espere resultados de um dia para o outro: são necessárias paciência e persistência.
Todos os yogas são acompanhados dos oito pilares ou passos. Sobretudo, não pense em praticar qualquer técnica de meditação ou yoga sem antes conhecer e esforçar-se para melhorar e aumentar os dois alicerces da prática espiritual: a conduta e a virtude. Observe também que todos os outros passos do yoga aparecem nesta técnica: postura, controle da força vital, interiorização, concentração, meditação e samadhi.
A fase inicial – ou o primeiro estágio de toda meditação – é a mais difícil; depois a profundidade da percepção torna os pensamentos (mentais) menos intrusos.
Atma-Vichara – A Prática
Tempo requerido: de 20 a 50 minutos, 1 ou 2 vezes por dia.
- Se você conseguir encaixar esta técnica em algum momento no decorrer do seu dia, melhor. Apesar de poder obter resultados praticando-a antes de dormir ou após acordar, recorra a esses dois horários somente como último recurso, já que preocupações com o horário de levantar e com a bexiga e o fato de eventualmente cochilar durante a meditação tenderão a atrapalhar sua prática e seu sono.
Fase Inicial ou Preparação: Meditação com reflexão mental
Esta fase servirá como uma guia para nos impulsionar além dos limites que a mente pode alcançar.
Sente-se com a coluna ereta ou deite-se em shavasana.
- Embora o ideal seja conservar a coluna ereta, sentando-se em um piso ou cadeira firmes que proporcionem isso ou, no caso de deitar-se, preferir uma superfície firme como o yoga mat (tapete de yoga), a meditação pode ser levada a cabo também em qualquer posição, como deitado na cama ou sentado ou reclinado em uma poltrona, sofá ou rede.
Perceba e observe sua respiração, anapanasati, ao inspirar, expirar, inspirar, expirar…
Vá relaxando a mente – respire calmamente até conseguir um repouso mental, aonde a mente, embora ainda conviva com um ou outro pensamento, está relativamente tranquilizada.
Desloque o sentido de consciência para o centro do peito
Coloque a mente no Ser que habita no “coração” (em sua porção no centro do peito), na região do anahata. Esse é seu centro (considerando do ponto de vista da alma), e aí está seu Ser. Esse é o primeiro passo desta prática: deslocar o sentido do eu do cérebro para o coração. A mente associada ao cérebro é entregue e dissolvida no coração. Então as seguintes perguntas e reflexões serão feitas e percebidas a partir do centro do peito, onde estará seu sentido-de-ser.
Então medite e reflita sobre as questões a seguir.
Quem Sou Eu? Eu sou este corpo?
Concentração: Aos poucos, coloque toda a sua atenção na pergunta Quem Sou Eu? atual, o que fará que a atenção a todas as outras ideias que insistem em aparecer na mente seja diminuída.
Alguns dizem que a consciência ou o “sentido do eu” e a mente nada mais são do que o resultado de interações eletroquímicas entre os neurônios – vale lembrar que alguns ou muitos cientistas apenas especulam essa afirmativa e autodeclaram-se longe de entender o que é a consciência e o seu funcionamento.
Outros dizem que, embora tenhamos criado um corpo material, que os siddhas indianos chamaram de annamayakosha, que hoje ou temporariamente faz parte de nós, nós não somos O corpo material.
Indivíduos que passaram por experiências de quase morte, ou sob efeito de anestesia por motivos cirúrgicos, ou ainda que viram-se desprendidos do corpo durante a noite, asseveram que viram de fora o próprio corpo físico.
Então será que sou meramente este cérebro, este coração, estes olhos, etc.?
Respire calmamente e reflita…
Estas perguntas e principalmente as respostas são sugestões para aprofundar-se. Mas o exercício trata-se exatamente de desenvolver em si mesmo a capacidade reflexiva, encontrar suas próprias respostas ou caminhos para entender as questões pessoais, que servirão mais tarde como auxiliares na transposição da própria mente.
Quem Sou Eu? Sou esta mente sensorial?
(Esta pergunta/reflexão geralmente não necessita ser feita após as primeiras vezes – a não ser quando você queira usá-la como degrau de aprofundamento -, uma vez que você percebe que é bem mais do que este sistema sensorial).
Será que sou meramente esta processadora de informações dos cinco sentidos?
Eu percebo o mundo através dos sentidos que são recebidos por manas e interajo com ele pelos mecanismos de ação do corpo (boca, mãos/braços, pernas/pés, ânus e genitais), mas se eu silenciar e inativar todos eles, aquieto a própria manas. E posso perceber que estou e sou além desse mecanismo de percepção.
Quem Sou Eu? Eu sou estas emoções que sinto?
(Desejo, raiva, simpatia, medo, esperança, etc.)
E se, além do corpo e dos sentidos, eu silenciar minhas impressões, traumas, emoções, pensamentos, memórias… o que resta? Quem sou eu?
Você já percebeu que, já tendo passado por diversos estados emocionais, longos ou fugazes, algo lá dentro e no meio do peito permanece inalterado, imperturbável?
Você já se sentiu a mais infeliz dos mortais, e talvez também o maior de todos. Você já foi lançada de um lado para o outro por desejos, paixões e aversões. Em comum entre os seus estados mentais mais desanimados e os mais exaltados, estava o fato que se fechasse os olhos e focasse no seu interior, descobriria que o seu Eu permanecia inalterável por essas modificações, ontem, hoje e sempre.
Da mesma forma, iogues avançados alcançam estados além da consciência mental – que inclui a emocional -, e nesses estados mantém a percepção do Eu, embora não estejam em contato com nenhuma emoção.
Sempre que a mente vaguear – distrair-se ou seguir por outro pensamento -, preste atenção à sua respiração por alguns momentos – ouça o som e sinta o ar entrando e saindo do seu corpo -, e perceba a mente se refreando e aquietando. Então retorne à questão atual ou à primeira pergunta.
Reflita e continue respirando calmamente…
Quem Sou Eu? Eu sou estes pensamentos?
O mesmo que foi dito para as emoções, pode ser aplicado aos pensamentos (mentais). Ambos são produto mental.
Esta é a minha essência?
A mente recebe informações dos cinco sentidos físicos e assim compõe a sua representação de mundo. Os indianos também consideram a mente um sentido, pois a partir dessas informações ela expande raciocínios, compõe pensamentos, registra memórias, enfim, cria uma vida mental e intelectual.
Novamente, os sábios dizem – e mesmo nós percebemos intuitivamente – que existe algo em nosso interior que simplesmente observa essa vida mental, mas que não é ela. Às vezes chamado de “a testemunha silenciosa”.
A mente então seria esse emaranhado de impressões recebidas, informações dos sentidos, experiências e pensamentos, e se você observar a partir do seu ser, do seu centro, começará a perceber os pensamentos e informações passando e realizar que você não é eles.
O que ou quem existe entre os pensamentos?
Quem Sou Eu? Sou esta personalidade?
Conforme descemos mais profundamente em nossas camadas, podemos perceber que entremeado na composição da mente, que percebe limites e divisões entre você e o outro e o mundo, e relaciona-se com todos eles, encontra-se o complexo do ego ou personalidade.
Ele é composto e retroalimentado por esses aspectos ou estruturas mentais adjacentes ao sentido de eu (manas e buddhi), que carregam informações dos sentidos, memórias (informações, aprendizados, vivências, conquistas, etc.) e seus substratos subconscientes (ações ou experiências desta vida e de experiências passadas).
A pergunta aqui é: Eu sou a/o [SeuNome]?
Algumas reflexões cabíveis: Me deram um nome ou eu já vim com ele? Estou apegado a estas conquistas terrenas (formação, bens, etc.)?
Ao compreender a natureza da investigação, você pode incorporar novas perguntas a ela, como estas propostas por Ramana Maharshi ou outras.
Esta fase reflexiva é como entregar-se a um trabalho artístico. O artista, quando atinge o ponto em que está fluindo na criação, transpôs os limites e barreiras da mente racional.
Entre-fases: Respiração: A Ponte
Imagine sua mente como um lago. Cada pensamento provoca ondulações na superfície dele. Nosso objetivo é reduzir a atividade mental para que o lago da mente fique calmo, translúcido, ou seja, silencioso (que não produza pensamentos) e assim possa refletir – ou melhor dizendo, deixar transpassar – as emanações das suas camadas mais profundas, mais próximos do ser ou alma. Perceber sua mente como um lago translúcido irá lhe ajudar nos processos meditativos.
Chamamos o que vem das camadas além da mente (mais profundas) de intuição.
Começai exalando muito lentamente, depois inalei suavemente, em seguida retende a respiração momentaneamente, e afinal expirai de novo. Fazei isso com plena atenção e com os olhos fechados. É importante que o estudante verta toda a sua consciência nessa respiração, até lhe parecer viver nela durante todo aquele temo.
Este exercício é para ser praticado pelos principiantes durante cinco minutos – e não mais. Os estudantes adiantados podem estender o período sucessivamente até dez, quinze e vinte minutos, à medida que progridam. Ninguém deverá ultrapassar o último limite.
Paul Brunton, em O Caminho Secreto, p. 76
Deixe que a respiração seja absolutamente natural, tranquila, e que aos poucos ela tenha um ritmo naturalmente mais lento.
Este exercício se baseia no simples fato de que a respiração é um vínculo entre a mente e o corpo, pois ela supre o cérebro de sangue arterial. Diminuir o ciclo é encurtar o suprimento de sangue ao cérebro, e portanto, retardar o ciclo de pensamentos. “A respiração é o cavalo e a mente é o cavaleiro”, dizem os tibetanos. Assim, a tensão e o relaxamento do cérebro, o aparecimento e desaparecimento dos pensamentos, se correspondem em harmonia peculiar com o ciclo respiratório e podem ser colocados sob domínio.
(…) E a aplicada concentração de sua atenção o fará esquecer outras coisas durante aquele ato, de sorte que ele sentirá haver-se tomado um “filho da respiração”, por assim dizer. Ele se engolfa totalmente no processo da respiração modificada, funde com ele sua mente, submerge todos os demais pensamentos em observá-lo, e assim se torna temporariamente transformado numa pessoa mais sutil e sensível. Uma etapa tal não se alcança imediatante, senão após semanas de exercícios regulares.
Paul Brunton, em O Caminho Secreto (p. 76-77)
Fase Final – A Meditação
Agora utilize a mesma atitude indagadora das questões acima, mas agora para o seu próprio ser. Dirija estas perguntas a si próprio, lentamente, intencionalmente e com intensa concentração na alma:
Quem sou eu?
Quem é este ser, que habita dentro deste corpo?
Ou:
Quem sou eu?
Quem é o Pensador, que está em mim e chamo de “eu”?
Depois aguarde durante uns minutos, meditando silenciosamente, e sem esforço, nessas perguntas. [Se a mente vagar, utilize a imagem mental do lago plácido.]
A seguir, faça um silencioso e humilde pedido,
Paul Brunton, em O Caminho Secreto, p. 79-80
uma meia-prece se o prefere, dirigido ao Super-eu no próprio centro de seu ser, para que lhe revele sua existência. As palavras em que formule tal pedido podem ser suas próprias, mas têm que ser simples, breves e diretas. Faça o pedido como se estivesse se dirigindo a um amigo íntimo e a um verdadeiro ser.
Então aguarde e apenas respire…
- Aqui, a mente e personalidade já cumpriram seus papéis nesta prática, portanto, não reflexione mais neste ponto, apenas respire e aos poucos deverá perder a percepção inclusive da respiração.
- Não esforce-se para encontrar uma resposta, apenas seja.
- Se surgirem pensamentos durante esta fase, permaneça atento a seu ser e eles podem se desvanecer naturalmente. Aproveite a oportunidade e pergunte: A quem ocorre este pensamento?
- Sua atitude é meramente a de um escutador ou percebedor.
Depois de 2 ou 3 minutos mentalmente silenciosos, você pode repetir a pergunta desta fase final.
Então, pare tudo novamente.
Quando a mente está profundamente engajada numa linha de pensamento, tende a tornar-se inconsciente da vizinhança externa, à proporção que a concentração aumenta. Quando esse estado é levado a uma profunda extensão, a mente torna-se voltada para um só ponto. Se, a essa altura, o assunto da meditação pudesse ser de alguma forma abandonado, o vácuo consequente causaria, rapidamente, um movimento do mundo oculto da alma do homem, que viria preenchê-lo. Naquela aparente vacuidade, o homem se tornaria consciente da presença de um novo visitante, seu Eu Superior. Tal é o princípio essencial por trás desse processo de autoconhecimento.
Paul Brunton – Mensagem de Arunachala, p. 146
Após mais 2 ou 3 minutos mentalmente silenciosos, você pode repetir a pergunta desta fase final pela terceira e última vez.
Então deve esperar com paciência e expectativa, durante um período de cerca de cinco minutos, com seu corpo parado, sua respiração lenta e calma, e sua mente serena. Este é o final de sua meditação.
Paul Brunton, em O Caminho Secreto, p. 82
O supremo só vem até você quando todas as técnicas forem abandonadas. O supremo só acontece a você quando não houver nenhum método, porque somente então você estará aberto. O Supremo só vai bater à sua porta quando você não estiver.
(…) Você tem que estar tão imensamente vazio, tão infinitamente vazio… – só então existe a possibilidade do encontro.
Osho, em Sublime Vazio, cap. 6
Dicas e observações
A chave para uma correta compreensão desta etapa está em lembrar que o que mais importa agora é a reação subconsciente ao esforço consciente do estudante.
Paul Brunton, em O Caminho Secreto, p. 82
- Nos momentos de quietude, ou mesmo nos das perguntas, procure sentir-se a partir do centro do seu Ser interior, que as Upanishads localizam na região do anahata chakra, no centro do peito.
- Nesse ponto, com o tempo você pode, a partir do seu Ser, sentir ou olhar sua mente lá em cima na cabeça e, se for o caso, perceber que você não é ela. Esse é o estado de vairagya ou destacamento. Se você se aquietar e respirar calmamente, perceberá também o ar entrando pelas narinas no corpo material como se elas estivessem numa posição física acima, percebendo a si mesmo como sendo mais sutil, e sentindo algo mais denso, o corpo.
- Tenha paciência, o progresso pode ser lento e se dar de diversas formas, algumas mais outras menos mensuráveis.
- Você receberá intuições superiores mas não desenvolva-as mentalmente durante a meditação: posteriormente você terá tempo para isso.
- Os pensamentos mais criativos e soluções para problemas brotam geralmente da camada criativa/causal (Anandamaya kosha) que acessamos logo que passamos pela barreira da camada mental.
- Com o tempo, conforme você se desenvolve nesta prática e no conhecimento de si, você pode interiorizar-se com mais facilidade, ou seja, passar mais rapidamente pelas perguntas e reflexões ou até mesmo iniciar a técnica já na fase final de meditação.
Ramana Maharshi: “Sem dar tréguas, faça esta pergunta: quem sou eu? Analise seu eu até o âmago, procure seguir seu pensamento até onde começa a raiz do eu, mantendo nele sua atenção introvertida. Um dia virá em que os pensamentos caóticos que, como uma roda, giram incessantemente, acabarão parando, levando-o ao ponto onde a intuição direta surge espontaneamente das profundezas do seu ser; continue a segui-la, abandone todo pensamento; entregue-se. Se for bem sucedido, alcançará a nossa meta suprema.”
Eu [Paul Brunton] me submeto a esses ensinamentos, combato cada dia meu intelecto; aos poucos abre-se um novo caminho e desço as profundidades inexploradas da mente.
(…) Aos poucos começo a dominar meus pensamento vadios e obtenho intensa interiorização de consciência.
Ramana Maharshi e Paul Brunton, relatado por este no livro A Índia Secreta (1934)
Assim, faça uma coisa: vá além. Nem caia vítima da lógica, do intelecto, nem se torne vítima das emoções, da sentimentalidade. A cabeça está no corpo e o coração também está no corpo. Vá além dos dois. O que está além? Lá, está a simples existência, você simplesmente é.
Ser é sem quaisquer atributos. Esses simples “estado-de-ser” (beingness) é dhyan, esse simples “estado-de-ser” é meditação – e isso está escrito na porta.
Subitamente, a porta se abre quando você é um simples ser – não emoções, não pensamentos; nenhuma nuvem ao seu redor, desanuviado; nenhuma fumaça ao redor da chama, simplesmente a chama. Você já entrou!
Osho, em A semente de mostarda, p. 67
Em determinado ponto da prática, apenas Seja esse seu Ser. A mente já está distante e calada. Você apenas percebe sua respiração, ou nem mesmo ela. Você apenas É! Sem mente. Com o tempo, permita-se interiorizar-se mais até Se Conhecer: saber Quem você é!, se autorrealizar.
Essa meditação que leva à autorrealização não possui objetos, elementos. Quando todos esses são eliminados, as camadas mentais tornam-se mais límpidas. Quando a mente torna-se pura, saudável e calma, quando eliminou as percepções sensórias e os pensamentos, volve-se translúcida e o Ser pode tornar-se evidente por si mesmo.
Esse ser ou consciência está sempre presente e é o suporte da mente, ilumina-a e permeia todos os seus objetos. Ao retirar a atenção deles, aquietando completamente a mente, sua percepção pode acontecer.
As experiências de Samadhi lhe esperam do outro lado da porta.
Você é o si mesmo, o ser, nada além do si mesmo, o ser. Qualquer outra coisa é apenas imaginação. Então seja o si mesmo, aqui e agora.
Ramana Maharshi
Você também não pode investigar, dirigindo sua atenção para dentro para descobrir se o Eu que tudo abarca é ou não é consciente?
Essa consciência é absoluta e está além dos três estados de vigília, sono com sonhos e sono profundo. Compreende todo o universo e o torna manifesto. Nada pode ser percebido sem sua luz. Que aparências poderia haver se não houvesse consciência? Mesmo a cessação de todas as aparências, como ocorre no sono profundo, requer a luz da consciência para atestá-la. A consciência de sua inconsciência também se deve à sua consciência. Se inferes sua luz eterna, você deve investigar mais de perto se essa luz surge de si mesma ou não. Todos caem nessa investigação, por mais instruídos e competentes que sejam, pois sua atenção não está se dirige para dentro, mas perambula pelos arredores sem descanso.
Enquanto os pensamentos aflorarem, a completa imersão da mente não pode ser alcançada, e enquanto isso não for alcançado, o Si mesmo não pode ser realizado.
A introspecção autêntica envolve a ausência de desejo. Como a mente pode parar se os desejos não são abandonados?
A própria natureza do Ser implica desapego; por existir por si mesma, só pode ser espontânea. É o que resta ao final da investigação, após a eliminação de todo esforço e pensamento. Se você retornar a esse estado depois de deixá-lo, saberá tudo, incluindo o sentido dessas palavras sobre o que é conhecível e incognoscível ao mesmo tempo. Tendo compreendido isso, para um só existe a eternidade.
Tripura Rahasya: O segredo de Tripura, cap. 15, p. 136-137 (pdf em espanhol)
Resultados esperáveis
Ramana Maharshi assevera a necessidade de um guru para a autorrealização ou iluminação neste yoga, isto é, aquele salto do estado de consciência de si para o estado místico de Consciência de Si ou Consciência Cósmica.
Mas isso não restringe o enorme potencial desta prática de revelar, dia após dia, uma nova consciência, ou sua verdadeira consciência e natureza. De fato, você pode ter vislumbres desta (sua) Realidade e conectar-se indelevelmente a seu Ser Interior, de maneira que toda sua existência se transformará.
Essa autorrevelação e o maior conhecimento de si mesma(o) lhe fará atingir diferentes níveis de consciência, o que pode lhe levar a conhecer um verdadeiro guru de meditação, seja neste plano ou em outro, ou até mesmo a conectar-se com seu guru interno, que é seu próprio ser.
Você percebe que é o ser, a testemunha, aquilo que existe entre os pensamentos.
Se você estiver praticando diariamente Atma-Vichara, ao entregar-se, com responsabilidade, à mestra da floresta Ayahuasca, esta também poderá lhe levar ao autoconhecimento ou a um vislumbre dele.
Prática no estado de vigília
No decorrer do dia, em estado desperto e mesmo de pé, de vez em quando pare um pouco, volte sua atenção para seu ser interior ou alma, imaginando-o no meio do seu peito, e faça perguntas parecidas com a que você faz na meditação:
• Quem está fazendo isto?
• Quem está sentindo esta emoção?
• Quem está proferindo estas palavras?
• Quem está pensamento estes pensamentos?
Paul Brunton, em O Caminho Secreto, p. 84
Otávio Leal gosta também da pergunta Quem está aqui?
Aos poucos, a percepção do “eu” tende a sair da mente ou da cabeça e ir para o peito. Você perceberá que os pensamentos e inspirações mais valiosos que brotavam na mente, brotam na verdade ali, no seu Ser, e você terá a capacidade de separá-los dos pensamentos mentais e caprichos do ego. Você terá se tornado um Ser mais meditativo, intuitivo, sábio.
Recomendações
Cooperam para o sucesso na prática de Atma-Vichara:
- Alimentação moderada, natural, vegetariana, nutritiva e sáttvica. Essa alimentação colabora para que a própria mente torne-se pura, sáttvica.
Meditação guiada Atma-Vichara
Reflexões e textos do Jnana Yoga
Leitura Recomendada
Livros
Entre outras publicações, a técnica Atma-Vichara foi descrita nos seguintes livros:
- A Índia Secreta – Paul Brunton – O escritor descreve como chegou ao guru Ramana Maharshi no capítulo IX (A colina do Santo Lume) e nas cinco páginas que o antecedem. Depois, nos dois últimos capítulos do livro – XVI (Num eremitério da selva) e XVII (Tabuinhas de verdades esquecidas) – Paul retorna ao convívio do mestre e descreve suas primeiras experiências e aprendizados.
- O Caminho Secreto – Paul Brunton – descrição mais detalhada e passo-a-passo da técnica.
- Assim Falava Ramana (Ramana Maharshi – compilação Swami Rajeswarananda) – pdf e audiolivro
- Questionário e livros sobre Atma-Vichara e a Realidade (Ramana Maharshi e discípulos) – audiolivros
Livros sobre Jnana Yoga (autoconhecimento)
- Jnana Yoga: o caminho do conhecimento (Swami Vivekananda) – pdf
- Jnana Yoga – Parte II: Sete leituras – Do Sankhya ao Vedanta (Swami Vivekananda) – pdf
- Não-dualidade
Manuscritos
Bhagavad Gita – A canção do Senhor
O Bhagavad Gita é principal texto que apresenta o Jnana Yoga. Um passo importante para todo yoga e sobretudo para este do autoconhecimento é a leitura, reflexão e meditação nele.
Upanishads
As Upanishads apresentam o conhecimento transcendental mais adiantado das Religiões Hindus e por isso seu estudo, sobretudo das 13 principais (Mukhya Upanishads) listadas a seguir, é fundamental em Jnana Yoga:
- Aitareya Upanishad (Aitareyopaniṣad)
- Brihadaranyaka Upanishad (Bṛhadāraṇyakopaniṣad)
- Chandogya Upanishad (Chāndogyopaniṣad)
- Isha Upanishad (Īśopaniṣad) [Ishavasya Upanishad]
- Katha Upanishad (Kaṭhopaniṣad)
- Kaushitaki Upanishad (Kauṣītakyupaniṣad) [Kaushitaki Brahmana Upanishad]
- Kena Upanishad (Kenopaniṣad)
- Maitrayani Upanishad (Maitrāyaṇyupaniṣad)
- Mandukya Upanishad (Māṇḍukyopaniṣad)
- Mundaka Upanishad (Muṇḍakopaniṣad)
- Prashna Upanishad (Praśnopaniṣad)
- Shvetashvatara Upanishad (Śvetāśvataropaniṣad)
- Taittiriya Upanishad (Taittirīyopaniṣad)
Ashtavakra Gita – A canção de Ashtavakra
O Ashtavakra Gita é um diálogo entre mestre e discípulo que possui algumas das mais altas concepções a respeito do Ser e de sua autorrealização encontradas nas Upanishads.
Tripura Rahasya: O segredo de Tripura
Tripura Rahasya é um livro cujo valor e relevância para o estudo do yoga, do Vedanta darshana, do não-dualismo, e sobretudo de Si Mesmo foram destacados por Ramana Maharshi, que fez com que se acendesse o interesse do mundo neste tratado.
“Esta viagem dentro de mim foi tão linda
Jair Rodrigues, A Majestade, o Sabiá
Vou voltar à ‘realidade’
Pra este mundo de Deus
Pois o meu eu, este tão desconhecido
Jamais serei traído
Pois este mundo sou eu”
Conheça também
Aula teórica e prática sobre a técnica de meditação Koan
(Por Otávio Leal - Dhyan Prem)
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2 comentários sobre “Atma-vichara – Quem sou eu?”
Para dizer o mínimo, ESPETACULAR CONTEÚDO. Prossigam com essa magnifica obra.
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