Quem é você?

Você é três!

No sentido de que você tem três consciências de si.

Uma é a consciência ordinária do dia-a-dia, comandada pela mente analítica, ou pela porção de seu complexo mentocorpóreo vinculada com sua parte racional. É considerada racional pois é a condensação das impressões sensoriais atribuídas como reais, físicas e objetivas pelo mundo todo – é a percepção compartilhada com as outras pessoas. Na sabedoria tolteca apresentada por Don Juan, é a nossa consciência do lado direito ou primeira atenção.

A segunda, Don Juan chama de consciência do lado esquerdo ou segunda atenção. É a consciência intuitiva, que na maioria de nós é precariamente desenvolvida e pouco acessível pela primeira atenção. Ela pode ser vivenciada em “estados alterados de consciência”, como ocorre em fases do sono, ou mesmo a partir do estado de vigília em pessoas com as faculdades psíquicas muito desenvolvidas (ou energizadas por um guru ou mestre avançado).

Por exemplo, quando a consciência “objetiva” relaxa, no estado de sono, nessa segunda atenção temos pleno conhecimento do que estamos fazendo durante uma projeção astral, ou coletamos informações e estabelecemos contato com outras consciências em estados ou sintonias parecidos, mas não conseguimos reter ou trazer sua recordação para a primeira consciência.

Além do sonho ordinário, proveniente dos processos de relaxamento e reequilibração mentais, existe toda uma gama de atividades desempenhadas e contatos estabelecidos enquanto o corpo dorme que simplesmente não estão registrados na consciência objetiva. Você já deve ter acordado com uma ideia, uma reminiscência, a vaga lembrança de uma música e mesmo o som de uma voz ou vozes, lembranças das últimas palavras que você ouviu no estado de sonho, etc. É possível que até mesmo, à exemplo de Carlos Castañeda – discípulo de Don Juan -, você tenha uma vida repleta de experiências das quais não recorda pois elas estão alojadas do lado esquerdo da sua consciência individual. Mas que, vez por outra, reminiscências dela tornam-se acessíveis, dependendo do deslocamento momentâneo de sua atenção de um lado para outro.

Pode-se dizer que essa segunda atenção é composta das percepções que a primeira descarta, pois aprendeu a descartar desde cedo na vida, para que a nossa “descrição de mundo” coincidisse com aquela apresentada pelos mais velhos. E que já não damos crédito racional às percepções que por ventura ela nos traz. Se fôssemos plenamente conscientes dela, teríamos a plena percepção dos domínios astrais da existência, formado tanto por seres com vida orgânica quanto por aqueles sem qualquer forma material.

A mente racional ou primeira atenção, ao restringir nossa percepção, executa um papel importante como protetora da individualidade ou de sua própria sanidade. Uma pessoa consciente da segunda atenção sem qualquer resistência ou preparo da primeira é o que chamamos de louca. Muitas vezes, a diferença de um louco para um iogue é que este último sabe lidar com suas visões e experiência extrassensoriais.

Um ser individual integral é aquele que tornou-se plenamente consciente dessas duas atenções. (Isso não é nada fácil, mas se você quiser saber um pouco mais sugerimos se aprofundar na Sabedoria Tolteca trazida por Carlos Castañeda.)

Patanjali talvez chame esse processo de desenvolvimento da segunda atenção de distrair-se com os poderes astrais, e esquecer o Yoga ou a busca em autorrealizar-se como Atman ou Chit, a Consciência que veremos a seguir.

Você é dois (duas)

Esses dois lados apresentados constituem a unidade da sua individualidade ou ego, com todas as suas camadas. Esse é o seu ser individual.

Mas há também um terceiro aspecto de nosso ser, uma outra consciência. É o que os indianos chamaram de Atman como Paramatman, a Alma Transcendental. Essa alma não tem relação ao que às vezes chamamos de “alma” como “espírito individual e volitivo” (este seria seu corpo astral ou ser individual astral). Esse Atman é aquela porção de nós que está além, subjacente a esses corpos físico e mental.

Atman está igualmente subjacente a um ser somente “astral” (inorgânico), e a todos os seres. Atman pode ser percebido mesmo que não tenhamos grande acesso à segunda atenção, se conseguirmos compreender sua natureza e detivermos nosso diálogo interno. A meditação Atma-Vichara de Ramana Maharshi objetiva conhecê-Lo. Outras meditações, como a Hong So do Kriya Yoga ou a de Patanjali do Raja Yoga, também o fazem, à medida que isolam a mente, seu objeto de concentração e o processo de percepção e com isso proporcionam ao meditador uma janela para a percepção de que há algo mais, “alguém” percebendo essa mente, essa primeira atenção. Trata-se desse nosso Ser ou parte de nosso ser.

A qualidade dessa Consciência é que ela não é afetada por absolutamente nada neste mundo. As outras podem se deteriorar à medida que envelhecem (elas ou seus veículos de manifestação), mas a Consciência não. Dá a impressão de ser perene, talvez eterna, talvez imortal. A essa consciência os indianos chamam também de Chit, e há algum debate teórico sobre se ela é a própria existência (brahman) ou um pedaço dela, já que quando experimentada pelos buscadores passa a impressão de que através desse “pequeno infinito” dentro de nós, nos sentimos o próprio Infinito, a Existência, o Incomensurável, Indescritível.

Você é um (uma)

A consciência individual, chamada de chitta pelos hindus, é um reflexo dessa Chit transcendente ao ego. Chitta é um “dar-se conta” de si. É um aspecto de Chit, velado ou ao menos nublado por maya koshas ou camadas de ilusão ou de matéria consciencial evanescente, pelas quais percebemos um mundo exterior manifestado. Tira-se essas camadas e a própria chitta se desvanece (pois ela é feita dessas camadas), permanecendo somente Chit.

Então você é uma consciência individual que nada mais é que um reflexo da Consciência Cósmica. E ao mesmo tempo você já é essa Consciência Cósmica.

Tudo é um

Sem essas camadas, sem o ego ou “sentido do eu individual”, não há separação entre os seres e entre eles e os ambientes. Quando nos percebemos como Consciência Cósmica ou Universal, tudo somos nós, não parece haver dois.

Tudo é Consciência

Se somos a Consciência Cósmica, o Todo, tudo é esta Consciência. De novo, não parece haver dois. Logo…

Tudo está dentro da Consciência

Chitta, composta por camadas de maya, é emanada da própria Consciência. Está dentro Dela. Todas essas camadas, todo o Universo, estão dentro dessa Consciência. Ela é o próprio Todo ou brahman.

Podemos sentir o Universo inteiro dentro de nosso ser. Se você tiver impressão dessa Totalidade enquanto tem percepção de um corpo físico, pode sentir o Universo todo dentro do seu corpo.

Fim; seguem-se especulações mentais e hipóteses

A Existência e a Consciência ou Atman já não estão no domínio da mente. A mente não pode compreender o Incompreensível. Se tudo está dentro da Consciência…

Consciência de quem?

Essa é uma das perguntas mais estarrecedoras que se pode fazer. É bem verdade que só quando transpomos a mente (que é quem pergunta) mergulhamos na Consciência Cósmica e sentimos esse mar de não-divisão, de Unidade; sentimos tudo como Consciência, e não há nada para ser perguntado, buscado ou alcançado, nós já (e simplesmente) somos.

Mas, quando voltamos, a mente pode perguntar “Consciência de quem?” É aí que se situa o Incognoscível, o Incomensurável, aquilo que é impossível conhecer.

Se falamos em Tudo ou Todo, não há nada que não esteja no Todo. Mas será que isso não seria relativizado numa Existência também Transcendente à Consciência já Transcendental? Isso, é claro, é somente especulação, não se pode concluir nada a respeito do Incognoscível.

Analogamente, imagine um átomo dentro do Universo que é o corpo humano. Por um desses acasos do destino, esse átomo viajou por domínios do corpo todo e descobriu que ele é algo mais, percebeu que ele compõe e é parte do Universo corporal inteiro – esse átomo iogue se autorrealizou. E se a Consciência Cósmica ou Existência inteira for um planeta num Super Universo, ou uma pessoa dentro desse planeta? Ou um átomo?

Hipótese Hare Krishna

A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada foi o principal propagador do movimento Hare Krishna no Ocidente, uma religião bhakti, ou seja, devocional a Deus. A princípio, é suspeito falar de Deus para além da e das considerações da mente humana, pois um ente assim estaria no domínio do Incognoscível. Ele situava Deus além do Todo, além de brahman (e para ele paradoxalmente Deus teria encarnado como Rama e Krishna, mas isso é outro assunto). Mesmo brahman imanifesto para ele seria uma emanação de Deus. Deus seria como o sol e brahman como seus raios.

Leia também: Você é uma alma, ou Você é A Alma

Conheça também

Curso de Formação de Terapeuta Holistico

Curso de Formação de Terapeuta Holístico

(Instituto Saber Consciente)

Formação ampla e completa em Terapia Holística com 20 terapias pelo preço de uma.

Capacitação profissional em Terapia Floral, Cromoterapia, Cristaloterapia, Reiki, Mindfulness, Auriculoterapia, Baralho Cigano e muito mais.

Formação 100% online com acesso vitalício a 980h de conteúdo e certificado profissional reconhecido pela ABRATH. Conheça aqui todos os cursos inclusos e os módulos de cada um.

chela » Jnana Yoga – O caminho do autoconhecimento » Reflexões » Quem é você?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *