Khechari Mantra (Khechari Melana Mantra)

Chamado também de: Khechari Soma Mantra

Khechari vidya – a ciência do khechari

Khechari (khecari) é o siddhi (poder) de voar, mover-se no akasha (espaço), e pode ser entendido também como o estado de livre flutuação da consciência em meditação profunda. Diz-se também que livra o iogue da velhice e da morte neste mundo.

A ciência de khechari é explanada no segundo adhyaya (“capítulo”, ou livro) da Yoga Kundali Upanishad e envolve duas explanações: a do Khechari Mantra e a do Khechari Mudra, o corte do freio da língua (supervisionado por um guru). Este último é explicado em diversos outros manuscritos do yoga e do Hatha Yoga.

É dito que a prática de ambos pode levar ao khechari siddhi pleno. Em estágios intermediários leva o iogue a modificar e ampliar sua consciência do corpo físico, sentindo-o menos denso ou “pairador”, podendo vencer limitações de tempo e espaço (ou maya). É um mantra adequado para Laya Yoga ou yoga da dissolução, já que suaviza as barreiras entre a consciência corporal individual e o universo ao redor.

Khechari Mantra foi retirado da sugestão de prática diária de Kundalini Yoga por entendermos que o tempo destinado à sua execução pode ser melhor empregado aos iniciantes em outras práticas citadas por Swami Sivananda (em Kundalini Yoga) e por Swami Satyananda Saraswati (em Kundalini Tantra). Este mantra avançado possivelmente é mais indicado para pessoas que ingressam numa prática intensa e exclusiva de yoga, mas se você tem disponibilidade de tempo e puder entoá-lo todos os dias, sinta-se livre para experimentar colocá-lo em seu abhyasa.

Khechari Mantra em Yoga Kundali Upanishad

  1. Khechari contém o bija ou a letra-semente. Khechari bija é conhecido como Agni [fogo] rodeado de água. É a morada dos devas ou dos khecharas [siddhas dotados de poder de voar pelo akasha (espaço)]. A maestria do siddhi é obtida por este Yoga.
  2. A nona letra ou bija de somamsa (a parte de Soma, ou a face da Lua) deve ser pronunciada na ordem inversa. Em seguida, a letra composta por três amsas com a forma da lua é descrita, e então a oitava letra deve ser pronunciada na ordem inversa. Então considere-o como o Supremo e seu começo como o quinto. Diz-se que são kuta (chifres) dos vários bhinnas (ou partes) da lua.
  3. Através da iniciação de um Guru, isto que tende à realização de todos os yogas, deve ser aprendido.
  4. Quem recita isto doze vezes todos os dias não terá nem mesmo durante o sono esta maya ou ilusão que nasce em seu corpo e é a fonte de todas as ações viciosas.
  5. Para quem recitar ele cinco lakhs [500 mil. 1 lakh = 100 mil] de vezes com muito cuidado, a ciência de Khechari se revelará. Para ele, todos os obstáculos desaparecem. Os Devas estão satisfeitos. Sem dúvida, ocorrerão a destruição do acinzentamento dos cabelos e das rugas (valipalita).
  6. Aquele que adquiriu a grande ciência deve praticá-la constantemente. Caso contrário, ele não encontrará nenhum siddhi no caminho de Khechari.
  7. Se, nesta prática, alguém não obtém esta ciência semelhante ao néctar, deve obtê-la no princípio de Melana [processo de união ou yoga] e recitá-la sempre. Caso contrário, quem está sem ela nunca recebe Siddhi.
  8. Assim que alguém obtém esta ciência, deve praticá-la. É então que em breve se obtém o Siddhi.
  9. As sete sílabas HRIM, BHAM, SAM, PAM, PHAM, SAM e KSHAM constituem o Khechari Mantra.

Yoga Kundali Upanishad, cap. 2, em Kundalini Yoga (Swami Sivananda), p. 115 (port. p. 131).

No manuscrito Yoga Kundali Upanishad traduzido por Hugo Labate, as sílabas do Khechari Mantra (no verso 27 acima) não são apresentadas no segundo adhyaya, a não ser na forma esotérica ou enigmática descrita no item 20 acima, mas essas mesmas sílabas são prescritas no primeiro verso do terceiro adhyaya precedidas de “Melana mantra”:

Melana Mantra: Hrim bham sam pam pham sam ksham.

Yoga Kundali Upanishad 3.1

Trata-se do mesmo mantra. Esse mantra é ensinado por Swami Sivananda e a linhagem dos gurus de Jason Gallant (ver abaixo) como sendo o próprio Khechari Mantra. Parece haver somente um mantra descrito nessa Upanishad, este, conhecido como Khechari Mantra ou Khechari Melana Mantra. A versão apresentada por Sivananda no mesmo verso (3.1) é uma variante desse mantra: Hrim Bham Sam Sham Pham Sam Ksham, onde há a troca da quarta letra-palavra Pam por Sham.

Em seguida, o terceiro adhyaya descreve o processo de melana (união, junção), através da elevação do prana, vayu, e absorção no Atman Supremo.

Prática e sugestões

Conforme indicado no trecho acima de Yoga-Kundalini Upanishad, Khechari Mantra é entoado:

Hrim Bham Sam Pam Pham Sam Ksham

🗣 Caso você comece esta prática, entoe Khechari Mantra diariamente, sendo que faça de maneira especialmente “firme” em quatro dias do calendário lunar: no dia da lua nova e no dia subsequente, e no dia da lua cheia e no dia subsequente.

Calendários lunares são facilmente encontrados no Google, como este do Personare e este do Calendarr. Basta certificar-se de que é do ano correto e verificar as datas de lua nova (Amavasya) e lua cheia (Purnima), lembrando-se também do dia seguinte a elas (primeiro dia da quinzena lunar ou Prathama). Saiba mais sobre a quinzena lunar (Paksha) aqui e no Calendário Hindu (astrológico e lunar e de festivais).

Se você utiliza o Google Agenda no computador (não disponível no app de celular), pode adicionar a agenda Fases da lua em Outras Agendas + » Procurar agendas de interesse.

🗣 Entoe Khechari Mantra (esta sequência acima) de 1 a 108 vezes. Para uma prática mais curta e exequível diariamente, você pode entoá-lo apenas uma vez. Dependendo da reverberação do mantra em você, você pode expandir para 3 ou 12 repetições, por exemplo, ou até chegar às 108 da tradição. Vamos passar um esquema de como pode ser sua prática com 12 repetições:

  • Antes da primeira repetição, como em todo mantra, comece sempre entoando Om.
  • Uma das formas, dentre inúmeras que você pode estipular para si, de repetir este mantra é fazê-lo começando por 2 (ou 1) entoações nas quais toma-se uma inspiração para cada entoação (expiração), e durante cada letra-palavra (Hrim, etc.)sinta o seu significado vibrar em seu corpo.
    • (inspire e:) Hrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmm
    • (inspire e:) B’haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaammmmm
    • (inspire e:) Saaaaaaaaaaaaaaaaaaaaammmmm
    • (inspire e:) Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaammmmm
    • (inspire e:) P’haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaammmmm
    • (inspire e:) Saaaaaaaaaaaaaaaaaaaaammmmm
    • (inspire e:) Ksh’haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaammmmm
  • Prossiga com 9 (ou 10) entoações mais rápidas, podendo tomar uma inspiração para cada repetição do mantra (Hrim Bham Sam Pam Pham Sam Ksham).
  • Finalize com uma última entoação lenta, como as primeiras, com uma inspiração para cada entoação (expiração).
  • Se você possuir tranquilidade e concentração para realizar mais ou todas as 12 entoações diárias de forma lenta, melhor ainda!
  • Opcionalmente, você pode entoá-lo 108 vezes (com a ajuda de um colar de contas ou japamala), porém neste caso recomendamos também realizar ao menos duas três entoações bem concentradas, com uma inspiração para cada letra-palavra.
  • Não apresse-se em chegar às “500 mil repetições”. Se este mantra for entoado com outras práticas de Kundalini Yoga – sem esquecer as bases de conduta e virtude -, você logo perceberá crescentes modificações na sua autopercepção e interação com o mundo.

🗣 Se desejar, enquanto entoa as letras-palavras você pode senti-las vibrando e expandindo-se em/a partir de algum chakra. Você pode fazer testes, senti-las no chakra anahata, no vishuddha no ajna. Mas talvez o chakra mais relevante para isso seja o muladhara. A vibração, que vem a manifestar-se como som inaudível (a princípio) no anahata e que vira som manifesto no vishuddha, nasce em muladhara. Então, durante a entoação coloque a percepção nesse chakra e sinta a energia ascendendo por sushumna e atingindo todos os centros (seus e da criação).

  • Você pode sentir sua consciência e energia expandindo-se para o corpo todo a partir do chakra. Essa expansão pode ser sentida também para todo o Universo.
  • Ou sinta cada uma das letras-palavras em um chakra principal, em ordem ascendente: Hrim: Muladhara; Bham: Svadhishthana; Sam: Manipura; Pam: Anahata; Pham: Vishuddha; Sam: Ajna; Ksham: Sahasrara – esse esquema só é útil nas repetições lentas.

🗣 Mesmo quando estiver entoando de forma mais rápida, como na fase intermediária acima ou na demonstração de Jason Gallant, procure sempre sentir o significado de cada letra-palavra entoada.

🗣 Após o término das repetições, permaneça silencioso e imóvel sentindo a integração do seu Ser. Você pode senti-lo / identificá-lo com seu corpo, com o Universo, com a Existência…

  • A prática deste mantra no escuro e com os olhos fechados pode potencializar essa percepção.

🗣 Você pode executar jnana mudra com ambas as mãos enquanto entoa o mantra.

Pronúncia

🗣 Você pode utilizar a pronúncia demonstrada por Jason Gallant.

  • O “a” de cada letra-palavra tem a pronúncia mais parecida como um “ã” em português.
  • O “h” de Bham pode ser levemente mais aspirado (como de Pham);
  • Jason aponta que seu guru diz que o h de Ksham também pode ser aspirado. Como ksh’ham com o som do ‘h como um r suave.

h – É uma letra sonora gutural. O som é como o de “rr” em “rato”, só que mais suave.

Sanskrit Trika Shaivism » Aprendendo Sânscrito – Primeiros Passos (1)

Significado do Khechari Mantra

Diversos textos sagrados hindus afirmam que o mantra sempre deve ser entoado com conhecimento de seu significado.

Significado das vogais por Sri Aurobindo

Devo considerar primeiro as raízes vocálicas. São quatro em número, a, i, u e r, e todos as quatro indicam principalmente a ideia de ser, existência em algum aspecto elementar ou modificação sugerida pela qualidade inata ou guna do som que a denota.

“A” em sua forma abreviada indica o ser em sua simplicidade, sem qualquer ideia mais adiante de modificação ou qualidade, mero ou ser inicial, criador do espaço;

“I” um estado de existência intenso, sendo estreito, contundente e insistente, tendendo a uma meta, buscando ocupar espaço;

“U” um estado de existência amplo, estendido, mas não difuso, sendo medial e firmemente ocupante do espaço;

“R” um vibrante estado de existência, pulsando no espaço, sendo ativo em torno de um ponto, dentro de um limite.

As formas alongadas dessas vogais adicionam apenas uma maior intensidade ao significado das formas originais, mas o alongamento do “a” se modifica mais profundamente. Ele traz a sensação de espaço já criado e ocupado pela difusão do simples estado de ser – um estado de existência difuso ou penetrante. Esses significados são, eu sugiro, eternamente nativos para esses sons e consciente ou inconscientemente determinaram o uso deles na linguagem por falantes arianos. Para acompanhar esses desenvolvimentos e modificações, é necessário tomar essas raízes uma a uma em si mesmas e em seus derivados.

Blog do portal savitri.in, citando Sri Aurobindo‘s The Elementary Roots of Language

Khechari e Mantra – significado

A partir dos significados das letras apresentado por Sri Aurobindo, separamos as utilizadas no mantra:

A forma pura de todas as consoantes sânscritas é acompanhada pela letra a – as vogais representam ou manifestam o Espírito (imanifesto ou criador) e as consoantes a matéria (manifesta ou criação): no sânscrito, não há consoante sem vogal, o que vale dizer que não há matéria sem Espírito.

➡️ a – existência absoluta (conforme explanado na citação acima)

➡️ ma – limitação, finalidade, conclusão ou completude

  • Utilizada (m) ao final de todas as letras-palavras deste mantra.

➡️ ha – força

Hrim (Ha + Ra + I [longo: ī] + Ma)

Bija mantra (mantra semente) que representa o universo manifesto ou maya.

➡️ ra – vibração, toque, jogo.

  • Jogo pode configurar Lila (jogos ou passatempos dos deuses), a vibração que cria o universo manifesto ou maya.

➡️ ī = i prologando – existência intensa, objetiva, mas relativa.

O mantra Hrim (Hṛīm) está particularmente associado à dissolução de sua própria maya ou ilusão na intimidade do coração conhecedor – hridayam -, a sede natural da sabedoria do Ser. As duas letras iniciais, Hr, expressam o invólucro passional do coração de carne e o apego à aparência, mas também ao mais amado; im traz tudo isso para a intimidade do verdadeiro coração, a consciência, que está em toda parte e em lugar nenhum. Pois na verdade, seja sabido ou não, Ela [brahman como Deusa] é o mais amado de todos.

Tripura Rahasya: O segredo de Tripura p. 218, nota 28 (pdf em espanhol) por Miguel Iradier.

Bham, Sam, Pam, Pham (Consoantes + Ma)

➡️ bha – contato suave, forte, envolvente, posse, ação. Tudo isso com sensação de abarcamento ou contenção.

➡️ sa – repouso, união.

  • Sam (Saṃ – सं ) – é a letra de uma das quatro pétalas do muladhara chakra.

➡️ pa – toque suave ou impacto, relação gentil, ação possessiva.

➡️ pha – toque suave ou impacto, relação gentil, ação possessiva. Tudo isso com maior força (ha).

Ksham [Kṣaṃ] (Ksha + Ma ou K + Sha + Ma)

  • Ksham (क्षं) é a letra de uma das duas pétalas do ajna chakra, onde representa Shakti (a Criação, energia/força material).

O mantra Ksham propicia o conhecimento direto ou a Realidade. É o estágio final, pois conduz a personalidade ou eu (ego) ao Eu (Alma).

➡️ K – posse, domínio, criação, ação.

Sham (Sha + Ma)

➡️ sha (ṣa) – ação forte em repouso; união intensa.

  • Sham (ṣaṃ – षं) – é a letra de uma das quatro pétalas do muladhara chakra.

Esta letra-palavra é utilizada de forma independente também na variante deste mantra apresentada por Swami Sivananda.

Khechari Mantra – Explanação e pronúncia, por Jason Gallant

Em inglês. Ative o Closed Caption (CC) e em seguida clique no ícone de engrenagem (detalhes) » Legendas/CC » Traduzir automaticamente (Português). Ao terminar a explicação, desative as legendas pois o mantra original já está legendado.

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